sábado, 29 de agosto de 2009

Momumento do Ipiranga


O Monumento do Ipiranga ou Monumento à Independência do Brasil, é um monumento situado no Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo, Brasil. Feito em homenagem a independência do Brasil, o monumento, de autoria do italiano Ettore Ximenes, teve sua construção iniciada em 1884 e concluída em 1926.

Situado às margens do córrego do Ipiranga, afluente do Rio Tamanduateí, em cujas margens o Príncipe Regente D. Pedro, depois Imperador do Brasil, deu o grito da Independência, em 7 de setembro de 1.822. O significado da palavra 'Ipiranga' tem divergências entre os estudiosos:
  • "água roxa",
  • "rio vermelho",
  • "leito desigual e empinado"

Em 1912, o Presidente do Estado, Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, autorizou o Governo a erigir um monumento no Ipiranga, cujo objetivo era perpetuar a proclamação da Independência Nacional. Em 1917 foi aberta a concorrência. As maquetes de arquitetos brasileiros e estrangeiros foram expostas nas salas do Palácio das Indústrias (atual Prefeitura Municipal). O concurso encerrou-se em 1920 e entre os finalistas estavam os projetos de Etzel-Contratti Brizzolara e Rollo foi escolhido pelo povo, artistas, críticos e jornalistas. Entretanto, o Governo nomeou uma comissão, composta de empreiteiros, vereadores, engenheiros e funcionários públicos, que escolheram o projeto Ettore Ximenez. Segundo noticiário da época, tal projeto tinha sido encomendado pelo Czar Nicolau II, mas não se concretizara, devido a revolução de 1917.

O Monumento, finalmente, foi concluído em 1926, passando a simbolizar a marca da nossa Independência. Em sua cripta está instalada a Capela Imperial, onde repousam os restos mortais de SS. MM. D. Pedro I (falecido em Portugal) e de suas duas esposas:
  • D. Leopoldina Habsburgo
  • D. Amélia de Leuchtenberg
Com o Monumento da Independência completou-se o conjunto arquitetônico do Parque do Ipiranga.

Fonte: trabalho elaborado pelo Prof. Dr. Lincoln Etchebéhere Júnior para o Movimento Cívico em Defesa do Monumento do Ipiranga e do Parque da Independência. Universidade São Marcos Abril, 1997 e Wikipédia

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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Paço Imperial, Rio de Janeiro - Brasil

A origem do prédio remonta ao final do século XVII, 1699, quando a Casa da Moeda foi construída para fundir o ouro proveniente das Minas Gerais, na proximidade do mar, com a vantagem de facilitar os transportes marítimos. Em planta datada de 1713, o Armazém Del Rey já aparece com essa denominação, remetendo ao local onde eram guardadas armas e munições reais. Mais tarde, como Palácio dos Vice-Reis, foi usado como cocheira para cavalos e carruagens.


1743-1763
Casa dos Governadores
O prédio que viria a ser o Paço Imperial foi ocupado pela primeira vez, em 1743, pelo Governador Gomes Freire de Andrade, o Conde de Bobadela, que havia ordenado ao engenheiro militar José Fernandes Alpoim a construção de uma nova Casa dos Governadores para sediar o governo das capitanias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Alpoim aproveitou os edifícios preexistentes no local, a Casa da Moeda e o Armazém Del Rey, acrescentando dois pisos novos que resultaram em uma sóbria construção em alvenaria caiada de branco, com molduras nas janelas em pedra de cantaria e vários pátios por onde se fazia a circulação. Na entrada principal, uma bela portada de mármore de lioz dava acesso ao piso superior. De aspecto imponente em relação às edificações vizinhas, em pouco tempo, o prédio converteu-se em centro da política local e regional, bem como do comércio. Até 1808, a Casa da Moeda e o Real Armazém continuaram a funcionar no andar térreo.


1763-1808
Palácio dos Vice-Reis
Com a transferência da sede do Governo Geral de Salvador, Bahia, para o Rio de Janeiro, o prédio ficou conhecido como Palácio dos Vice-Reis. Foram 7 os vice-reis no Rio de Janeiro. Nesse período, várias obras e intervenções foram realizadas no Largo do Paço, como a construção do cais de cantaria lavrada com escadas para o mar e a instalação do chafariz que abasteceria os navios e as moradias no entorno, obra do Mestre Valentim que permanece até hoje na Praça XV. A cidade expandiu seus limites e consolidou como espaço hegemônico a região em torno do Paço que passaria, nos anos seguintes, por grandes reformas.


1808-1822
Paço Real
Ante a ameaça da invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte, o Príncipe Regente, D. João de Bragança, futuro D. João VI, não relutou em deixar Lisboa com a mãe incapacitada mental, a Rainha D. Maria I, e estabelecer-se no Brasil.

A Família Real portuguesa, a Corte e muitos dos vassalos que quiseram acompanhá-la embarcaram para o Brasil, com destino à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 36 navios com cerca de 12.000 a 15.000 pessoas, sob proteção de um esquadrão britânico.
Em 22 de janeiro de 1808, a frota ancorava em Salvador. Em março, D. João transferiu-se para o Rio de Janeiro, transformando a cidade em sede da monarquia. O Paço tornou-se residência da Família Real, recebendo a denominação de Paço Real e passou a ser elemento relevante no contexto do poder estabelecido.

A chegada da Corte provocou uma grande transformação na cidade. No Paço, várias modificações foram realizadas.
  • os cômodos voltados para o mar e para a praça constituiriam a parte nobre do prédio,
  • a Sala do Trono, onde ocorreriam as audiências reais,
  • no corpo da frente e no centro da fachada voltada para a praça, alojaram-se os membros da Família Real
  • construiu um passadiço, agregando o Paço ao Convento do Carmo e à casa da Câmara e Cadeia, para facilitar a movimentação dos acomodados nesses espaços,
  • as celas do convento foram transformadas em aposentos para a Rainha D. Maria I e suas damas,
  • a antiga capela do convento foi transformada em Capela Real,
  • em 1817, foi erguido um terceiro pavimento na fachada voltada para o mar, dando ao prédio o aspecto palaciano, local destinado aos aposentos reais

Apesar das reformas, o palácio ainda era considerado desconfortável para a Família Real, que se transferiu para a Quinta da Boa Vista. O Paço permaneceu como sede do governo, local dos despachos e recepções oficiais, de grandes cerimônias e festejos como a coroação de Dom João VI (6 de fevereiro de 1818) e a chegada de D. Leopoldina para o casamento com o príncipe D. Pedro (5 de novembro de 1817).


1822-1890
Paço Imperial
Com a declaração da independência do Brasil, o Paço Real transformou-se em Paço Imperial. O prédio foi pintado de amarelo, cor do Império, e as janelas ganharam balcões de ferro dourados.

O Paço Imperial, de 1822 a 1890, foi palco de todos os eventos políticos, religiosos, econômicos e o local de onde se governava o país. Manteve sua importância na cidade, pela nobreza e imponência de sua arquitetura - casa-sede do governo imperial - cenário de acontecimentos históricos como a aclamação de dois imperadores, D. Pedro I e D. Pedro II, o Dia do Fico (9 de janeiro de 1822) e a assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, que aboliu a escravatura no Brasil (13 de maio de 1888).


1890-1982
Sede do Departamento de Correios e Telégrafos
Após a Proclamação da República, o Paço perde sua posição de palácio, ligado ao poder monárquico, e passa a sediar o Departamento de Correios e Telégrafos.

Nas décadas de 20 e 30, o prédio passou por diversas reformas para acolher a repartição. Um prédio de três pavimentos foi construído no interior do pátio maior, o 3° pavimento é ampliado por todo o perímetro da construção, as platibandas foram retiradas e um frontão de estilo neocolonial é erguido na fachada principal. Em 1938, o prédio foi tombado pelo Patrimônio Histórico e, em 1982, iniciaram-se os trabalhos de restauração.


1985
Paço Imperial – Centro Cultural do IPHAN
Desde 1985, o Paço Imperial é um centro cultural vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN do Ministério da Cultura. A restauração do prédio foi orientada pela perspectiva de reabilitar e valorizar as marcas deixadas pelas diferentes fases históricas e suas sucessivas intervenções.

Seus espaços estão perfeitamente adequados a diversos projetos de exposições, atendendo às condições exigidas pelas normas internacionais de conservação de obras de arte. A linha de atuação adotada encontra uma metáfora concreta na restauração, feita entre 1982 e 1985, que mescla elementos originais do prédio com outros contemporâneos.

Como centro cultural, possui, além do circuito de exposições, espaços permanentemente abertos a eventos culturais, como:
  1. teatro,
  2. concertos musicais,
  3. seminários,
  4. conferências e
  5. debates relacionados às temáticas das exposições realizadas.

O Paço Imperial tornou-se referência no panorama cultural do Rio de Janeiro e inaugurou um novo ciclo na Praça XV e suas imediações, onde foram surgindo outros centros multiculturais que atraem um público de cerca de três milhões de pessoas por ano em programações que envolvem desde grandes exposições de arte nacionais e internacionais, eventos musicais e literários, peças de teatro, espetáculos de dança, filmes, cursos e seminários.




Origem: Paço Imperial

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domingo, 23 de agosto de 2009

Portão de Brandenburgo

O Portão de Brandenburgo ou Porta de Brandenburgo (em alemão: "Brandenburger Tor"), símbolo da cidade de Berlim, capital e maior cidade da Alemanha. É o único remanescente de uma série de outras entradas de Berlim. Constitui na terminação monumental da "Unter den Linden" (uma das principais avenidas da cidade), que dá acesso à residência real. Sua construção foi ordenada pelo rei prussiano Frederico Guilherme II.


Construção:
Construída no estilo neoclássico, possui 12 colunas dóricas de estilo grego. Sendo 6 de cada lado. Há 5 vãos centrais por onde passam 5 estradas. Sobre o arco está a:
  • quadriga – estátua da deusa grega Eirene ou Irene, deusa da paz, em uma biga puxada por 4 cavalos. Suas dimensões são de 26 m de altura, 11 m de profundidade e 65 m de largura. (visto de frente).
Originalmente a quadriga estava com sua frente voltada para a parte oeste de Berlim, de costas para a "Pariser Platz", mas os soviéticos fizeram a inversão, ficando sua face voltada para leste (que era a parte oriental de Berlim).

quadriga

As portas de Brandenburgo foram construídas sobre outras portas. Uma década após o fim da Guerra dos Trinta Anos, a partir de 1658, Berlim começou a expandir-se como uma fortaleza, cercada por altos muros. Onde atualmente existem as portas foram construídas nessa época umas primeiras, para servir como uma das entradas para a cidade. Na segunda metade do século XVIII, a burguesia ganhava força e o rei da Prússia, Frederico Guilherme II, iniciou um plano de reestruturação da cidade, dando a ela mais esplendor. Esse projeto previa a construção de umas novas portas, mas o projeto sofreu constantes atrasos e somente em 1788 as antigas portas foram demolidas. As obras foram iniciadas no ano de 1789 e duraram até 1791. Quando foi aberto ao trânsito ainda faltavam as esculturas e a quadriga, sendo finalizada posteriormente.


História:
  1. Entre as 6 colunas dóricas passavam 5 estradas em que apenas 2 (as mais extremas de cada lado) estavam abertas ao livre trânsito civil.
  2. A rua principal (do meio) apenas podia ser percorrida pela comitiva real.
  3. Não houve, no momento da inauguração, qualquer tipo de cerimônia nem nenhum tipo de solenidade.
  4. Foi aberto ao trânsito no dia 6 de agosto de 1791. As Portas de Brandenburgo davam ao rei acesso direto do palácio real até ao “Tiergarten”, seu jardim (na parte externa da cidade).
  5. A quadriga foi instalada em 1793, 2 anos após a abertura, mas permaneceu pouco tempo sob as portas.
  6. As tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadem Berlim, atravessando as portas de Brandenburgo em outubro de 1806.
  7. Em dezembro do mesmo ano, para simbolizar a dominação francesa, Bonaparte manda a quadriga para Paris.
  8. A quadriga retornou a Berlim em 1814 e segundo a vontade de Frederico Guilherme III, recebeu uma cruz de ferro e uma águia prussiana, e passou a significar a vitória (antes era um símbolo da paz).
  9. Em 1868, cai o velho muro de proteção da cidade, que circundava Berlim, e acrescentou-se às extremidades das portas 2 pequenos pavilhões sobre colunas, com a metade da altura das portas.
  10. Nos últimos dias da II Guerra Mundial tanto as portas como a quadriga foram danificadas.
  11. Berlim ficou dividida em 4 setores (estando as portas no setor soviético), e as portas de Brandenburgo retomaram a sua função original fazendo a divisão entre os setores leste e oeste, soviético e britânico (respectivamente).
  12. Inicialmente havia o livre tráfego através das portas.
  13. A quadriga foi retirada mais uma vez, em 1950, pelas autoridades soviéticas, e praticamente destruída.
  14. Portas e quadriga, foram reestruturadas em conjunto, ficando a reforma das portas sob a responsabilidade de Berlim oriental e a da quadriga para Berlim ocidental.
  15. Em julho de 1958 a reforma estava encerrada, a quadriga, que havia sido fundida em partes, foi remontada em 1 e 2 de agosto na praça "Pariser Platz" (do lado soviético).
  16. Na noite de 2 para 3 de agosto a quadriga foi levada para Marstall (do lado soviético).
  17. Na noite de 16 de setembro a águia e a cruz de ferro - tidas como símbolo do militarismo alemão - foram retiradas.
  18. Em 27 de setembro de 1958, a quadriga foi instalada no alto das portas de Brandenburgo, para ira do lado ocidental o monumento foi invertido. Os cavalos, que antes galopavam em direção a Berlim ocidental, foram postos de frente para a "Pariser Platz" (do lado soviético).
  19. As decisões unilaterais soviéticas sobre as portas chegaram ao fim em 14 de agosto de 1961, as portas foram isoladas e o muro de Berlim foi construído sem que as portas fizessem divisão entre os 2 setores.
  20. As portas ficaram completamente interrompidas para o tráfego de pedestres e automóveis por quase 30 anos, somente com a queda do Muro de Berlim, na noite de 9 para 10 de novembro de 1989, a sua reabertura foi repensada.
  21. Em 22 de dezembro as portas foram reutilizadas como divisão de fronteira, e em poucos meses o muro desapareceu por completo.





Hoje tanto a área quanto as portas estão reestruturados, e as portas unem o centro histórico da cidade ao “Tiergarten”, a sede do parlamento e a nova praça “Potsdamer Platz”. Os automóveis podem atravessar as portas desde 7 de março de 1998 no sentido de leste para oeste (na direção contrária é preciso contorná-las). A cruz de ferro e a águia prussiana foram reincorporadas à quadriga em 1991, mas os cavalos ainda galopam em direção a "Pariser Platz".

* Hoje as portas que um dia separam Berlim e que foram atravessadas em desfile por tropas napoleônicas, revolucionárias , e nazistas, é o símbolo da prosperidade e unificação alemã *

Origem: Wikipédia

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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Heráldica


A heráldica refere-se simultaneamente à ciência e à arte de descrever os brasões de armas ou escudos. As origens da heráldica remontam aos tempos em que era imperativo distinguir os participantes das batalhas e dos torneios, assim como descrever os serviços por eles prestados e que eram pintados nos seus escudos. No entanto, é importante notar que um brasão de armas é definido não visualmente, mas antes pela sua descrição escrita, a qual é dada numa linguagem própria – a linguagem heráldica.





Brasonar – é o ato de desenhar um brasão. Para termos a certeza de que os heraldistas, após a leitura das descrições, estão a brasonar corretamente, criando brasões precisos e semelhantes entre si, a arte de brasonar segue uma série de regras mais ou menos estritas.

Regras
  1. primeira coisa que é descrita num escudo é o esmalte (cor) do campo (fundo);
  2. a posição e esmaltes das diferentes figuras (objetos) existentes no escudo;
  3. cargas são descritas de cima para baixo, e da direita (dextra) para a esquerda (sinistra). A dextra (do latim dextra, -æ, «direita») refere-se ao lado esquerdo do escudo, e a sinistra (do latim sinistra, -æ, «esquerda») ao lado direito, tal como é visto pelo observador. A razão porque isto sucede prende-se com o fato de a descrição se referir ao ponto de vista do portador do escudo, e não do seu observador.

Escudo
Embora a palavra escudo seja comumente utilizada para se referir ao brasão de armas no seu todo, na realidade, o escudo é apenas um dos elementos que compõem um brasão de armas. Numa descrição completa, o escudo pode ser acompanhado por outros elementos, como suportes, coronéis, listéis com motes (ou lemas). Muitos escudos apresentam por vezes duas formas distintas: uma complexa, e outra simplificada, reduzida ao escudo propriamente dito (o que sucede por vezes quando há pouco espaço para inserir o brasão de armas maior). Inúmeros países apresentam assim as chamadas armas maiores e armas menores.





Origem: Wikipédia

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terça-feira, 18 de agosto de 2009

O fim da monarquia no Brasil


No dia 15 de novembro de 1889, no paço da Cidade o aspecto da praça à beira do cais Pharoux era o mesmo de dias normais. Nas docas embarcações erguiam seus mastros. O Arco de Teles dava a passagem para o mercado de peixe. O Hotel Machado abria as janelas para a rua do Mercado, apinhada de gente. Funcionários públicos entravam e saiam da Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas ao lado da igreja de São José.




Tendo chegado à capital por volta das 13hs, D. Pedro II e D. Teresa Cristina tomaram sua carruagem puxada por 6 cavalos e rumaram direto para o paço da Cidade. Isabel e o marido foram juntar-se a eles. Foram recebidos com as honras habituais pela guarda do palácio: toque de corneta, rufos de tambor, continência. Em poucas horas, uma multidão reunia-se inquieta à volta do prédio. Gente de todo tipo se misturava, da ralé aos grandes do Império. Dentro do palácio, D. Pedro II parecia manter a maior serenidade. Parecia não estar compenetrado da gravidade dos fatos. Foi indagado pelo almirante chileno Bannen se queria que lhe colocasse a disposição o encouraçado Almirante Cochrane para fugir ou resistir. D. Pedro respondeu:
  • " Isto é fogo de palha, eu conheço meus patrícios ".
Os brasileiros eram assim mesmo. Acreditava sinceramente, que no dia seguinte estaria tudo terminado.



A conspiração
Uma vasta conspiração militar organizada com ramificações nas Províncias. Tramada por oficiais e insuflada por um grupo de ideólogos explorando o descontentamento que lavrara no Exército a propósito de certas medidas imprudentes do governo. Não foi difícil contaminar o ânimo de Deodoro, militar valoroso, mas também vaidoso, induzindo-o a afrontar o ministro, e se preciso a própria monarquia que o general acusava de inimiga da classe militar.

No meio da tarde, um piquete de cavalaria, com 40 praças, cercou o palácio. O comandante se apresentou, dizendo-se "as ordens" de Sua Majestade por ordem de Deodoro da Fonseca. D. Pedro reagiu na hora, não reconhecia no velho marechal qualidade para dar tal ordens. Julgava necessário dissolver os grupos revoltosos. Acostumado a centralizar as decisões do gabinete, D. Pedro falou: "Eu não aceito a demissão". O genro, conde d'Eu, explicou-lhe que Ouro Preto e os demais estavam presos. "Ouro Preto virá falar comigo!", retrucou, olímpico o imperador. E o ministro Ouro Preto foi liberado por Deodoro a fim de ir ao palácio conferenciar com D. Pedro, sob condição de voltar ao quartel. Correu a notícia, que por sua sugestão o imperador teria indicado Silveira Martins para construir um novo conselho. Ministro aos 44 anos, ex presidente de província, o colosso gaúcho, barba branca e pele muito vermelha, chamava atenção por suas ideias e não tinha boas relações com Deodoro.

A Princesa Isabel lutava para não entregar os pontos e o imperador resistia a enxergar a realidade. O imperador ia se mostrando, ensimesmado, secreto e inabordável. Era um homem de seu tempo, romântico. Ser romântico era algo mais do que ter uma estética e uma filosofia. Era também, um modo de morrer, como extinguir-se politicamente. Quanta decepção em saber que Deodoro era o centro dos acontecimentos. Abatido o monarca se deixou levar por um fatalismo pessimista. Achava-se desgostoso diante da ingratidão do velho marechal, antes um interlocutor. Condecorara-o meses antes com uma das mais altas comendas do Império, a 'Ordem da Rosa'. Cansado o soberano se fechava em sofrimento e perguntas. Talvez uma repetição; repetição infeliz do que acontecera a seu pai quando da renúncia ao trono brasileiro. Como o pai, ele também se sentia desertado e atraiçoado. Isabel ficou chocada ao saber que José do Patrocínio, abolicionista com quem mantinha as melhores relações dirigia-se à Câmara Municipal à frente de populares, decidido a proclamar a República. E também chocados com a notícia que Deodoro secundado por Boacayuva, assinara a moção redigida por Benjamim Constant, lida ao povo : "Estava extinta a monarquia no Brasil!".

O adeus
Na noite de 15 de novembro para 16, tudo desmoronou. Não apenas o regime. A família também. Seus membros se digladiavam numa guerra interna. Irrompia a luta de gerações. Fora do paço, um Governo Provisório se estabelecera e o movimento militar iniciado contra um ministério terminara com a derrubada da monarquia. Mas não só: a república atingira membros da família imperial em cheio. Nunca mais seriam os mesmos. O golpe roubara-lhes o sorriso, o olhar e a alma.

Alta noite, enviou-se uma carta a Deodoro. A ideia da família imperial era convencer o chefe revolucionário a voltar atrás. Às 11 horas um major serviu de pombo correio. Às 2 da madrugada, ele voltou com a resposta verbal do velho marechal…
a República é um fato consumado.
Não aceitava propostas, nem cedia coisa alguma. E Deodoro também disse que o culpado de tudo era o conde d'Eu, opressor do Exército.

Passados os discursos e a volta das tropas aos quartéis, o novo governo que derrubara o poder com facilidade e sem derramamento de sangue tinha um problema: desembaraçar-se da família imperial. Tendo a simpatia de alguns republicanos, como Bocayuva, Constant e Deodoro, os Bragança não contaram com a simpatia de Rui Barbosa, que achava que a família imperial não podia coexistir com a República. Era perigoso demais. Como fazer se ninguém tinha coragem de enfrentar o imperador?


Na tarde do dia 16 de novembro, no salão da Damas, interior do paço, uma comissão composta pelo major Frederico Sólon, comandante das tropas que cercavam o paço, e dois oficiais de baixa patente se apresentou. Portavam a terrível mensagem de banimento do país(*). Invocando o "voto nacional", Deodoro ordenava à família imperial que deixasse o território em 24 horas. O imperador se dirigiu a um canto do salão e o barão de Loreto que o acompanhava leu em voz alta o texto intimidante da mensagem. Ao se inteirar do conteúdo, o velho monarca exclamou:
  • "Eu parto e parto já!"
A imperatriz e a filha desabaram em choro. Ficava combinado que a família imperial embarcaria no dia seguinte, às 17 h. O imperador escreveu, trêmulo, apesar de sua fisionomia serena, a resposta aos golpistas:

Após haver tomado conhecimento da carta que me foi remetida a 16 de novembro, às 3 h da tarde, resolvi me inclinar diante das circunstâncias e partir amanhã para a Europa com toda a minha família. Aqui deixo esse país que me é tanto afeiçoado e ao qual me esforcei de dar provas de minha solicitude e de meu devotamento por quase meio século, guardarei sempre o sentimento de benevolência para o Brasil e farei votos para sua prosperidade. D. Pedro d'Alcantâra.

Às 17 h e 45 min de domingo, dia 17 de novembro, se desenrolou a etapa mais melancólica do drama. A família imperial deixou o paço. Tal como seu pai, que quando partiu para o cais de embarque foi acompanhado pelos gritos de desespero de suas negras de serviço, também o imperador viu chorar seus escravos. A diferença é que seu pai embarcara magoado. D. Pedro II trazia os olhos fixos, frios e irônicos.

O embarque
No portão principal, havia apenas uma carruagem com escolta militar. Nela entraram os dois velhos monarcas e Isabel e Pedro Augusto. As demais pessoas, inclusive o genro, seguiram a carruagem a pé, silenciosamente. No momento de entrar na lanchinha que os levaria ao navio, enquanto o conde d'Eu apressava o embarque, D. Pedro, revistas embaixo do braço, repetia:
  • "Para que tanta pressa, não vamos fugindo!"
Havia amargura no semblante de todos. Foi um embarque noturno, incerto e furtivo, Para o que assistiram, era escandaloso ver um homem que governara por meio século, banido como um degredado. Nada levava consigo, além da família. Uma família em pedaços. Todos reunidos no tombadilho diminuto do Parnaíba, aguardaram o nascer do sol. Pelas dez da manhã, os filhos de Isabel chegaram de Petrópolis e foram imediatamente embarcados. "Em tudo notamos receio e atrapalhação", registrou Isabel. Ao meio dia levantaram ferros em direção à Ilha Grande. Das janelas dos camarotes do tombadilho, cada membro da família imperial acariciava, já com saudade, a paisagem. Às 18 h, o Alagoas ancorava na enseada do Abrãao, lado a lado com a canhoneira. O translado mais uma vez se fez à noite. O encouraçado Riachuelo ia escoltar o Alagoas, evitando que este acostasse em busca de reforços. Uma última refeição foi servida em águas territoriais brasileiras. Falou-se na ingratidão do país. Recolheram-se, cada qual com suas emoções. Às 5 h do dia 18, o Alagoas comboiado pelo Riachuelo, levantou ferros, indo em direção norte, passou diante da ilha Rasa e por trás do Pão de Açúcar, e ao meio dia já estava em Cabo Frio. "Está cumprido o mais doloroso de nossos deveres" , teria dito Benjamim Constant.





(*) o documento dizia, em síntese: ‘Os sentimentos democráticos da Nação, há muito preparados, despertaram agora. Obedecendo, pois às exigências do voto nacional, com todo o respeito à dignidade das funções públicas que acabais de exercer, somos forçados a notificar-vos de que o Governo Provisório espera de vosso patriotismo o sacrifício de deixardes o território brasileiro, com a vossa família, no mais breve prazo possível’. Vinte e quatro horas para deixar o Brasil. E – acrescente-se – para sempre.

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Banimento da Família Imperial

Decreto nº. 78-A (21 dez. 1889)

Bane do território nacional o Sr. D. Pedro de Alcântara e sua família e revoga o Decreto no 2, de 16 de novembro de 1889, e estabelece outras providências.

O Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisório, constituído pelo Exército e Armada, em nome da Nação,

Considerando:

Que o Sr. D. Pedro de Alcântara, depois de aceitar e agradecer aqui o subsídio de cinco mil contos para a ajuda de custo do seu estabelecimento na Europa, ao receber das mãos do general, que lho apresentou, o decreto onde se consigna essa medida, muda agora de deliberação, declarando recusar semelhante liberalidade;

Que, repelindo esse ato do Governo republicano, o Sr. D. Pedro de Alcântara pretende, ao mesmo tempo, continuar a perceber a dotação anual sua e de sua família em virtude do direito que presume substituir-lhe por força da lei;

Que essa destinação envolve a negação evidente da legitimidade do movimento nacional e encerra reivindicações incompatíveis hoje com a vontade do País, expressa em todas as suas antigas províncias, hoje Estados, e com os interesses do povo brasileiro, agora indissoluvelmente ligados à estabilidade do regime republicano;

Que a cessação do direito da antiga família imperial à lista civil é conseqüência imediata da revolução nacional, que a depôs, abolindo a monarquia;

Que o procedimento do Governo Provisório, mantendo, a despeito disso, essas vantagens ao príncipe decaído, era simplesmente uma providência de benignidade republicana, destinada a atestar os intuitos pacíficos e conciliadores do nosso regime, ao mesmo tempo em que uma homenagem retrospectiva à dignidade que o ex-Imperador ocupara como chefe do Estado;

Que a atitude presentemente assumida pelo Sr. D. Pedro de Alcântara nesse assunto, pressupondo a sobrevivência de direitos extintos pela revolução, contém o pensamento de desautorizá-la, aninha veleidades inconciliáveis com a situação republicana;

Que, conseguintemente, cessaram as razões de ordem política, em que se inspirara o Governo Provisório, proporcionando ao Sr. D. Pedro de Alcântara o subsídio de cinco mil contos, e respeitando temporariamente a sua dotação,

Decreta:

Art. 1o É banido do território brasileiro o Sr. D. Pedro de Alcântara e, com ele, sua família.

Art. 2o Fica-lhes vedado possuir imóveis no Brasil, devendo liquidar no prazo de dois anos os bens dessa espécie, que aqui possuem.

Art. 3o É revogado o Decreto no 2, de 16 de novembro de 1889, que concedeu ao Sr. D. Pedro de Alcântara cinco mil contos de ajuda de custo para o seu estabelecimento no estrangeiro.

Art. 4o Considera-se extinta, a contar de 15 desse mês, a dotação do Sr. D. Pedro de Alcântara e sua família.

Art. 5o Revogam-se as disposições em contrário.


Sala das Sessões do Governo Provisório dos Estados Unidos do Brasil, 21 de dezembro de 1889; 1o da República. - MANUEL DEODORO DA FONSECA - Quintino Bocaiúva - Rui Barbosa - Benjamim Constant.
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Origem: texto do livro 'O príncipe maldito' de Mary Del PrioreDocumentos e fotos: internete.

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A loucura dos reis – famílias felizes III




O Prudente, Luís XI nasceu no palácio episcopal de Bourges em 3 de julho de 1423 e morreu em 30 de agosto de 1483. Foi rei da França entre 1461 e 1483. Filho de Carlos VII de França e Maria de Anjou e desde cedo se rebelou contra a autoridade paterna.






___Vida_____________________________________________
Aos 3 anos, foi encerrado no castelo de Loches, onde permaneceu até os 10 anos de idade. Aos 11 anos, seu pai permitiu que ele fosse viver em Amboise com a mãe. Tinha um gosto pronunciado pela fé e pelos estudos, apesar de cair por vezes em conflito com a Igreja. Em 1436, seu pai determinou um casamento com Margarida da Escócia, união estratégica que o desagradou. Sua aversão ao pai cresceu. Aos 17 anos, Luís integrou revolta da nobreza contra o pai mas, derrotados, tiveram que se submeter e Luís foi mandado para o Dauphiné. Luís continuou a conspirar contra seu pai, desposou Carlota, filha do Duque de Savóia, e procurou refúgio junto ao Duque da Borgonha, rival da Coroa francesa. Luís XI estava no castelo de Genappe, propriedade do Duque da Borgonha, quando recebeu a notícia da morte do pai.

Luís pode ter herdado alguns distúrbios nervosos do pai, apesar de sua competência como rei e sucesso com que restaurou a autoridade da coroa.

As exéquias de Carlos VII foram celebradas no dia 8 de agosto de 1461, e Luís XI não compareceu. Coroado rei, dispensou os conselheiros do pai, e colocou sua própria gente.
  • passou a taxar os nobres,
  • aumentou os impostos,
  • dispensou os coletores do Papa, e
  • controlou as questões eclesiásticas.
Luís XI, não era um homem muito inteligente; era astuto, habilidoso e supersticioso, adorava andar por seu reino, e era pouco inclinado a levar uma vida de Corte. Fisicamente, era maldotado, sofrendo de uma doença de pele que o fazia temer ser leproso. A excentricidade de seu caráter, valeu o título de "aranha universal". Sua pouca disposição para se vestir como rei ou desfrutar os luxos da realeza, seus acessos de mal humor sugerem que talvez fosse vítima de uma neurose branda, que pode ter herdado do pai e do avô. Há alguma possibilidade de que os genes de Carlos VI expliquem algumas das idiossincrasias pessoais do filho e do neto.

___Casamento e descendência_______________________
Carlota deu 7 filhos a Luís, mas passava pouco tempo com ele, e permanecia sozinha em Amboise ou Tours. Luís XI teve uma amante: Marguerite de Sassenage, que lhe deu vários filhos. Sua esposa se acomodou dentro dessa situação, preferindo ignorar as infidelidades.

– casou em Tours em 24 de junho de 1436 com Margarida Stuart da Escócia (1418-1444), filha de Jaime I:
  • sem filhos desse casamento

– casou pela segunda vez em Chambery 14 de fevereiro de 1457 com Carlota (1445-1483), filha de Luís, Duque da Savóia e teve:
  1. Joaquim (1459)
  2. Luís (1467)
  3. Carlos VIII (1470-1498 ) – rei em 1483, rei de Nápoles em 1495
  4. Francisco (1472-1473 ), Duque de Berry
  5. Luísa (1460)
  6. Ana de França (1462-1522) – casada em 1474 com o senhor de Beaujeu; depois com Pedro II, duque de Bourbon em 1488, regente na menoridade do irmão Carlos VIII. Os contemporâneos a admiravam e a chamavam Madame la Grande.
  7. Santa Joana de Valois ou Santa Joana de França (1464-1505) – canonizada em 1950, duquesa de Berry em 1498, casou em 1476 com Luís de Orleans, futuro Luís XII, que a repudiou em 1498. Fundadora da Ordem das Anunciadas.

– de Phélisé Regnard, viúva de Jean Pie, teve:
  1. Guyotte, Bâtarde de France, casada com Charles du Sillon

– da Marguerite de Sassenage teve:
  1. Guyette de Valois, morta em 11 de março de 1502, legitimada
  2. Joana de Valois (1447-1519) Senhora Mirabeau – legitimada 25 de fevereiro de 1466, casada em 1466 com Luís Almirante de Bourbon, filho de Carlos I Duque de Bourbon, deste casal descenderá mais tarde Diane de Poitiers
  3. Maria de Valois (1451-1470) – legitimada em 1467, casada em 1467 com Aymar de Poitiers, senhor de Saint-Vallier
  4. Isabel de Valois – casada com Louis de Saint-Priest

Fonte: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green e Wikipédia

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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A loucura dos reis – famílias felizes II

Teria uma herança genética da doença de Carlos VI se revelado em seu filho, Carlos VII, ou em seu neto Luís XI?

Por meio de uma manipulação política astuta e uma onda de patriotismo associada com a estranha e enigmática figura de Joana d'Arc, meio mística, meio patriota, "possivelmente um homem em trajes de mulher", e com a ajuda da deserção do duque de Borgonha da aliança inglesa, o poder inglês na França desmoronou pouco a pouco, permitindo a Carlos VII recobrar sua autoridade e reconstruir sua administração.

Nasceu em Paris 22 fevereiro 1403 e faleceu no castelo de Mehun-sur-Yèvre em 22 julho 1461. Rei da França em 1429 sagrado em Reims, com a ajuda de Joana d'Arc. Filho de Carlos VI e Isabel da Baviera, seus irmãos mais velhos faleceram antes do pai, deixando-lhe o título de delfim (herdeiro do trono francês). Casado com Maria de Anjou, filha de Luís II de Anjou, rei de Nápoles.

Embora Carlos tenha sido um rei bem sucedido sob muitos aspectos, havia nas complexidades de sua personalidade alguns indícios de que talvez tivesse herdado algo da fragilidade nervosa do pai. Seu biógrafo do século XIX, Fresne de Beaucourt, disse que ele era "muitos homens num só". "Os olhos pequenos e empapuçados de roedor, o nariz comprido e bulboso, os lábios grossos e sensuais e o colorido doentio, não permitem que o retratado seja incluído entre os mais belos tipos de fisionomia real". (assim descreve Malcom Vale, seu retrato no Louvre).

Seu caráter parece ter sido reflexo de sua aparência:
  • homem pouco atraente, incoerente, volúvel, irresponsável, desconfiado, ressentido e sensual.

Carlos VII temia tentativas de assassinato, por ter crescido em uma corte traiçoeira e violenta. Jamais esqueceu do assassinato do duque de Borgonha na ponte de Montereau. No final de 1450, estava doente, sintomas secundários de uma doença venérea, provavelmente sífilis. Sua amante famosa foi Agnes Sorel, morta em 1450, e outra amante, Antoinette de Maignelay (1430- 1461) dame de Villequier.


Carlos havia sido deserdado pelo pai Carlos VI, em 1421. Sua relações com seu filho e herdeiro Luís XI, foram extremamente tensas. Vencedor final da Guerra dos Cem Anos, Carlos VII morre 8 anos mais tarde, em 22 de julho de 1461, aos 58 anos, amargurado por enfrentar a rebeldia do próprio filho Luís. Impaciente por governar, arriscando a unidade tão caramente conquistada, o filho levanta os vassalos contra o rei e se alia ao rival, de novo um duque da Borgonha - desta vez Filipe o Bom.


Descendência:

casou em 18 de dezembro de 1422 com Maria de Anjou (1404-1463 na abadia de Chateliers no Poitou), filha de Luís II de Anjou, rei de Nápoles, e de Iolanda de Aragão.
  1. Luís XI – nasceu em Bourges 1423 morreu em 1483, rei em 1461.
  2. João – nasceu em 1426
  3. Jaime – nasceu em 1426
  4. Carlos – nasceu em 1446-1472 morreu evenenado, Duque de Berry 1461; da Normandia 1465; da Aquitânia 1469. Sem descendência.
  5. Radegonde – nasceu em 1425 e morreu em 1444
  6. Catarina – nasceu em 1428 morreu em 1446. Casada em St. Omer em 1440 e com Carlos da Borgonha (morto em 1477), Duque da Borgonha.
  7. Iolanda– nasceu em 1434 morreu em 1478. Casada em 1452 com Amadeu IX (morto em 1488), Duque de Savóia.
  8. Joana – nasceu em 1435 morreu em 1482. Casada em 1447 com João II (morto em 1488) Duque de Bourbon.
  9. Filipe – nasceu em 1436
  10. Margarida – nasceu em 1437 morreu em 1438
  11. Joana – nasceu em 1438 morreu em 1446
  12. Maria – nasceu em 1438 morreu em 1439
  13. Maria – nasceu em 1441
  14. Madalena – nasceu em 1443 morreu em 1495. Casada em St. Jean d’Angely em 1461 com Gastão de Foix (morto em 1470), conde de Foix, príncipe de Viena.

de Agnes Sorel:
  1. Carlota de Valois – nasceu em 1434 morreu em 31 de maio de 1477, assassinada pelo marido.
  2. Maria Margarida de Valois – nasceu em 1443 morreu em 1473, Senhora de Royan. Casada em Vendôme em 1458 com Olivier de Coëtivy (morto em 1480), Conde de Taillebourg, senescal da Aquitânia.
  3. Joana de Valois – nasceu em 1448 morreu em 1467. Intitulada também bâtarde de France. Casou em 1461 com Antoine de Bueil (morto em 1506), Conde de Sancerre.
  4. uma filha – nasceu em 1449 morreu em fevereiro de 1450

Origem: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green e Wikipédia

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

A loucura dos reis – famílias felizes I



Os efeitos da doença de Carlos VI foram generalizados e prolongados, transformou sua personalidade. Teve os mais deploráveis efeitos sobre a família real, já dividida pelas ambições egoístas dos seus principais membros e a profunda inveja que os separava. As consequências das recaídas de Carlos VI provaram-se desastrosas para seu país.


Carlos subiu ao trono em 1380, depois de uma guerra com a Inglaterra. A zona rural e as cidades francesas haviam sido saqueadas e o tesouro real estava empobrecido. Filho de Carlos V "o sábio" e de Joana de Bourbon. Teve a desvantagem de suceder ao pai ainda menino de 12 anos, sem nenhuma experiência , impressionável e maleável, estava fadado a ser instrumento de sua família. Delegou os poderes aos seus tios:
  1. Luís, duque de Anjou – tentava apropriar-se do reino de Nápoles
  2. Filipe, duque de Borgonha – estava de olho no condado de Flandres
  3. João, duque de Berry – pilhava o Languedoc
Embora Carlos tenha atingido a maioridade em 1381, eram seus tios que comandavam o governo.

Carlos era um rapaz amante dos prazeres, caçador apaixonado. Era benevolente, generoso e afável, apelidado de le bien aimé 'o Bem Amado', um título irônico em vista de sua vida futura, mas que ele apreciaria até sua morte.

Casamento
Casou em 17 de julho de 1385 com Isabel, uma princesa da família real Wittlesbach, filha de Estevão III, duque de Ingolsdt na Baviera Superior, um dos mais poderosos Estados alemães, o avô da noiva era o duque de Milão – Bernardo Visconti.

Carlos era muito devotado a esposa, com quem teve 12 filhos em 21 anos, o último um menino que morreu imediatamente após nascer em 1407. Mas em determinado momento, houve uma mudança, sua aversão a Isabel tornou-se tão forte, que a rainha se retirou dos aposentos reais, dando lugar a uma jovem – Odette de Champdivers, que se tornou conhecida como a "pequena rainha" e teve uma filha do rei: Marguerite de Valois, que mais tarde se casou com Jean de Harpedene e foi legitimada por Carlos VII, em 1427.

O rompimento do casal no entanto, ocorreu num dos momentos em que o rei estava mais são: em 1417, ordenou à mulher que dispersasse sua corte e separou-a de sua filha Catarina e expulsou-a.

Reinado
Em 1388 houve uma mudança no governo, devido a política seguida de seus tios que desgostou o conselho real. O grupo a assumir era composto por homens que desejavam restabelecer a administração de Carlos V e expurgar a corrupção que crescera sob o governo dos tios. De fato o governo só passou de um grupo para outro, composto pela rainha Isabel, uma mulher cobiçosa e egoísta, decidida a enriquecer a si própria e à sua família, e pelo irmão mais moço do rei, Luís, duque de Touraine (mais tarde de Orléans), que segundo rumores se tornou amante da rainha.

Carlos teve uma doença em abril de 1392, que segundo um cronista foi uma "doença estranha e até então inaudita", durante a qual o rei teve febre alta e mais tarde perdeu o cabelo e as unhas. Como muitos outros, inclusive o duque de Berry, ficaram doente ao mesmo tempo, provavelmente foi febre tifóide ou encefalite.

Devido a um ataque gratuito a um fiel servidor real, Carlos tomou a decisão de se vingar e formou uma expedição, onde ficou evidente que não estava bem de saúde. Num determinado momento o rei num acesso, puxou sua espada e aos gritos de "Avante contra os traidores! Eles querem me entregar ao inimigo!" investiu contra todos que estavam ao seu alcance, matando 4 ou 5 de seus cavaleiros. O rei foi agarrado, ficou prostrado e sem fala, revirando os olhos, 2 dias em coma. Porém sob os cuidados de seu médico, foi recuperando a saúde. O fato de que ele tinha uma predisposição para perturbação mental pode ser inferido da doença de sua mãe e da natureza do mal que acometera pouco antes do início da expedição. Esse talvez tenha sido o início de uma esquizofrenia que retornaria em maior ou menor medida durante o resto de sua vida.

O colapso do rei teve efeitos imediatos, seus tios logo se livraram dos conselheiros e assumiram o poder novamente, junto com Luís, irmão do rei. Teve mais uma recaída em julho de 1393, outra em 1395. Com o passar do tempo os intervalos de aparente sanidade entre períodos de loucura foram ficando mais curtos. Com a morte de seu médico, os médicos reais ficaram desorientados, sem saber como lidar com aquele difícil paciente. Assim apelos foram feitos para especialistas menos ortodoxos e muitos feiticeiros foram chamados.

A França sofreu as consequências da prolongada instabilidade mental e do governo fraco de Carlos na forma de guerra civil, conselhos divididos e invasão estrangeira. No seio da família real criavam-se rivais ao poder político, especialmente entre o irmão do rei, Luís de Orléans e seu tio Filipe de Borgonha.

Sucessão
Enquanto esses conflitos aconteciam, um novo perigo para a França aparecia na forma de um ressurgimento das reivindicações inglesas ao trono francês. O jovem e ambicioso rei da Inglaterra, Henrique V. A vitória inglesa deixou os franceses sem liderança e divididos. O herdeiro do rei francês, o duque de Guyenne, morreu de repente e logo depois foi a vez de seu irmão João; Carlos de 14 anos ficou como delfim. Por algum tempo os príncipes franceses resolveram se unir, mas o duque de Borgonha foi assassinado a caminho do encontro com o delfim. Carlos VI, mais uma vez deslocou o delfim, dando ao novo duque de Borgonha, Filipe (casado com sua filha Michele) o direito e o poder de negociar trégua com Henrique V. Em 21 de maio de 1420, negociou-se um tratado que o rei Henrique atuaria como regente do rei francês enquanto ele vivesse e o sucederia quando ele morresse. O tratado foi selado com o casamento de Henrique com Catarina, filha de Carlos, o filho desse casamento seria rei da Inglaterra e da França, deserdando assim seu filho Carlos VII. Henrique morreu em 31 de agosto de 1422, deixando seu filho Henrique VI como sucessor. Carlos VI faleceu em 21 de outubro de 1422. Em sua exéquias em St. Denis, o arauto bradou:
" Deus conceda longa vida a Henrique, pela graça de Deus, rei da França e da Inglaterra, nosso soberano senhor".

Enquanto a França recuperava sua força sob os dois sucessores de Carlos, seu filho Carlos VII e seu neto Luís XI, a Inglaterra sob Henrique VI, sucumbia às guerras entre facções que o rei inglês foi incapaz de controlar e para cuja continuação seu próprio colapso mental contribuiu.

Descendência
• com Isabel da Baviera (1371-1435), nasceram:
  1. Carlos, Delfim do Viennois (nascido no castelo de Vincennes, 1386)
  2. Joana (1388 - 1390)
  3. Isabel de Valois, nascida no Louvre em 1389 e morta em Blois em 1409, casada em 1396 com Ricardo II e depois de viúva casada em 1406 com Carlos, Duque de Orléans morto em 1465.
  4. Joana de Valois, nascida em Melun em 1391 e morta em Vannes em 1433, casada em 1397 com João VI, Duque da Bretanha, morto em 1442.
  5. Carlos, Delfim do Viennois (1392 - 1401)
  6. Maria de Valois (1393 - 1438), abadessa de Poissy, onde morreu.
  7. Micaela de Valois, nascida em Paris em 1395 e morta em Gand em 1422, casada em 1409 com Filipe III, Duque da Borgonha (morto em 1467).
  8. Luís, Duque de Guyenne ou Aquitânia e Delfim (1396 ou 1397 - 1415), casado com Margarida da Borgonha (1393-1441) filha do Duque da Borgonha, João Sem Medo.
  9. João, nasceu em 1401, Duque de Touraine e Delfim de França, nascido em Paris em (1398 e envenenado em Compiègne em 1417); casado com Jacqueline de Hainaut (assassinada em 1436 no castelo de Teilingen) condessa de Holanda e do Hainaut, filha de Guilherme II, duque da Baviera Inferior, conde de Holanda.
  10. Catarina de Valois, nascida em Paris em 1401 e morta em Londres em 1437, casada em Troyes em 1420 por força do Tratado, com Henrique V de Inglaterra; enviuvando em 1422 casou-se por volta de 1429 com Owen Tudor (morto em 1461). Um de seus netos será o rei Henrique VII Tudor. Por este casamento, Henrique V pode ser proclamado em 1422 Rei de França.
  11. Carlos VII, Rei de França (1403 - 1461), casado com Marie de Anjou
  12. Filipe nascido e morto em Paris em (1407)

• com Odette de Champdivers nasceu:
  1. Margarida de Valois, nascida em 1407 e morta em 1458, legitimada em 1427. Em 1428 foi casada com João III de Harpedanne, senhor de Belleville de Montaigu, com posteridade extinta em 1587.


Origem: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green

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domingo, 9 de agosto de 2009

A grande mulher – Grã Duquesa Isabel


A Grã-Duquesa Isabel Feodorovna da Rússia nasceu no dia 1 de novembro de 1864 em Hesse-Darmstadt, Alemanha e era esposa do Grão-Duque Sergei Alexandrovich, 5º filho do Czar Alexandre II. Era conhecida por “Ella” pela família e amigos e era a irmã 8 anos mais velha da Czarina Alexandra Feodorovna, esposa do Czar Nicolau II. Isabel tornou-se famosa na sociedade russa pela sua beleza, charme e trabalhos de caridade entre os pobres.

Em novembro de 1864, a Princesa Alice de Hesse escreveu uma carta à sua mãe, a rainha Vitória do Reino Unido, onde lhe contava que ela e o seu marido tinham decidido chamar a sua segunda filha, nascida no primeiro dia desse mês, de Isabel em honra da Santa mais amada e venerada no pequeno ducado de Darmstadt. “Esqueci-me de te dizer,” escreveu ela mais tarde numa outra carta, “em resposta à tua carta sobre o nome da Ella que ela deve ser chamada de Isabel. Apenas ‘entre-nous’ a tratamos por Ella.” Nos meses que se seguiram as suas cartas para a mãe enchiam-se de pormenores sobre a doçura da nova bebê, dos seus olhos azuis-escuros, do seu cabelo loiro, da sua alegria, a sua bondade e, ocasionalmente, das suas asneiras.

Em agosto de 1865, a Rainha Vitória foi até Darmstadt, em parte para assistir ao inicio da construção do novo Palácio da Princesa Alice e do seu marido e em parte para conhecer a sua nova neta. Sem se alarmar ou intimidar com o ar majestoso que rodeava a mulher baixa e forte, vestida com um longo vestido negro, a bebê sorriu-lhe e deixou que a sua avó lhe beijasse as bochechas sem qualquer protesto. “Ela é muito boa, a minha avó,” disse ela um pouco mais tarde e a Princesa Alice ficou, sem dúvida, aliviada, uma vez que a sua segunda filha tinha as suas próprias ideias e tinha-se revoltado com a sua outra avó, a Princesa Charles de Hesse lhe tinha tentado tocar. “É muito cansativo,” disse a Princesa Alice sobre o fato de a sua adorável filha não se conseguir comportar com pessoas desconhecidas.

Mas quando no verão de 1865 a sua mãe a levou a visitar Heilligenberg e a sua tia-avó Maria Feodorovna (esposa do Czar Alexandre II) pegou nela ao colo, a pequena criança ficou encantada e colocou os seus braços à volta do seu pescoço, colando a sua cara aquela que era a fria Czarina da Rússia e que encontrou na sua adorável sobrinha-neta um refúgio para os seus dias de solidão no Palácio de Alexandre. Foi durante esta visita que Isabel brincou pela primeira vez com aquele que seria o seu futuro marido, o Grão-Duque Sergei Alexandrovich.

Apesar de descender de uma das mais antigas e mais poderosas famílias nobres da Alemanha, Isabel e a sua família tinham uma vida bastante modesta quando comparada com os padrões reais. As crianças varriam o chão e arrumavam os seus próprios quartos enquanto a sua mãe confeccionava as suas roupas e as dos filhos. Durante a Guerra Austro-Prussiana, era frequente a Princesa Alice levar Isabel consigo quando visitava soldados feridos num hospital próximo. No meio deste ambiente relativamente feliz e seguro, Isabel cresceu rodeada de hábitos domésticos ingleses e o inglês tornou-se sua língua principal, assim como a dos seus irmãos. As crianças falavam inglês com a mãe e Alemão com o pai. «ao lado foto de Ella sentada com a irmã Mae nos braços, Irene, Ernesto, Alice(Alexandra da Rússia) e Vitória»

No outono de 1878, quando Isabel tinha 14 anos, a difteria abalou a casa Hesse matando a sua irmã mais nova, Maria (conhecida na família por Mae) no dia 16 de novembro desse ano. Isabel foi a única dos irmãos que não apanhou a doença e foi enviada para a casa dos avós paternos para não ser afetada. Enquanto lá estava, no dia 14 de dezembro, a sua mãe sucumbiu à doença depois de cuidar de todos os filhos durante essas semanas. Quando Isabel foi autorizada a regressar à sua casa, descreveu a reunião como “terrivelmente triste” e disse que tudo parecia “um pesadelo horrível”.

Pretendentes e Casamento
Durante a sua juventude, Isabel era sedutora e tinha uma personalidade muito aberta. Muitos historiadores consideram-na uma das mulheres mais bonitas da Europa nesta altura. Foi durante esta época que ela chamou a atenção do seu primo mais velho, o futuro kaiser Guilherme II da Alemanha. Ele estudava na Universidade de Bonn e não era raro visitar os seus parentes de Hesse aos fins-de-semana. Durante estas visitas ele apaixonou-se por Isabel e escreveu-lhe numerosos poemas de amor que lhe enviava. Embora se sentisse elogiada pela atenção que recebia por parte do primo, Isabel não se sentia atraída por Guilherme e rejeitou-o educadamente. O futuro kaiser ficou frustrado e decidiu desistir da Universidade para voltar a Berlim. Além de Guilherme II, Isabel tinha muitos admiradores, entre os quais o Lord Charles Montagu, Segundo filho do 7º Duque de Manchester e Henry Wilson que se tornaria num famoso soldado. Outro dos seus admiradores era o futuro Frederico II, Grão-Duque de Baden e primo de Guilherme.

Eventualmente foi um Grão-Duque russo que conquistou o coração de Isabel. A tia-avó de Isabel, nascida em Hesse, era uma visita frequente no condado e, durante as suas visitas, era sempre acompanhada pelos seus filhos mais novos, Sergei e Paulo. Isabel conhecia os dois irmãos desde bebê, mas achava-os demasiado arrogantes e reservados. Sergei, particularmente, era um jovem calado, muito religioso e apaixonou-se por Isabel quando a viu pela primeira vez depois de muitos anos. Mais tarde ele pediu-lhe para casar com ele, mas, a principio, Isabel não se sentia apaixonada por ele. A opinião da Princesa mudou quando Sergei perdeu os seus pais no mesmo ano. Maria Feodorovna de Hesse morreu de doença e Alexandre II foi morto num atentado à bomba em São Petersburgo quando se encontrava a caminho de uma reunião que tornaria a Rússia numa monarquia constitucional.

O Grão-Duque encontrava-se em Roma quando o seu pai foi assassinado e, por isso, foi-lhe poupada a visão do seu corpo mutilado. Sergei admirava o seu pai e a sua morte fez com que se tornasse num selvagem anti-revolucionário que não escondia o ódio que sentia pelas pessoas que tinham ignorado os esforços de Alexandre II em liberalizar o país. A morte da sua mãe foi também difícil uma vez que ambos eram devotos um ao outro. Estes eventos mudaram-no e Isabel passou a vê-lo “com outros olhos”, uma vez que compreendia a dor pela qual ele passava depois de ter perdido a sua própria mãe. Outras parecenças como a arte e a religião aproximaram-nos cada vez mais. Há quem diga que ele gostava particularmente da sua personalidade que o fazia recordar a sua adorada mãe. Por isso, quando Sergei voltou a pedir a mão de Isabel, ela aceitou e ambos tiveram autorização do pai dela para se casarem. A Rainha Vitória não ficou particularmente encantada com a união.

O noivado da Princesa Isabel foi curto, uma vez que Sergei queria que o casamento se realizasse o mais rapidamente possivel e, apesar do pai dela não aceitar completamente a sua pressa, foi forçado a lidar com ela quando em junho de 1884 chegou a São Petersburgo com Isabel e as suas duas irmãs mais novas Irene e Alice.

A Rússia, com a sua vastidão, a sua atmosfera estranha e inexplicável, surpreendeu as duas princesas mais velhas que, à exceção da Inglaterra, tinham visto muito pouco do mundo. As enormes praças e largas ruas de São Petersburgo, o Neva, maior do que qualquer rio inglês ou alemão, as cúpulas e espirais douradas das catedrais, a grandeza do Palácio de Inverno e a graciosidade da alta sociedade eram tão únicos e inesperados que elas se sentiram desorientadas e confusas, incapazes de se acostumarem ao ambiente estranho e pouco familiar que as rodeava. Elas sentiam-se intimidadas pelas multidões de criados e damas-de-companhia que as rodeavam sem descanço, pelos conselheiros da Corte que davam diferentes instruções e, acima de tudo, pelo irmão de Sergei, o Czar Alexanre III. O imperador era alto, tinha ombros largos, uma voz alta e mãos que conseguiam endireitar uma ferradura sem grande esforço. Apenas Alice que tinha apenas 12 anos na altura parecia não ter nenhuma apreensão. Ela não via nada de assustador, apenas “os corredores vastos e inspiradores do Palácio de Inverno com os seus quilômetros de chão dourado” e passou a maior parte do tempo a jogar às escondidas entre os pilares com o filho mais velho de Alexandre III que era, normalmente, tímido e indiferente com estranhos, mas achava aquela menina com os seus caracóis loiros uma companhia encantadora e com quem se sentia perfeitamente relaxado.

O Grão-Duque de Hesse não tinha permitido que a sua filha mudasse de religião antes do casamento, por isso houve uma cerimônia Luterana e uma Ortodoxa. Quando finalmente ambas as cerimônias acabaram e uma Isabel pálida teve de se despedir do seu pai e das irmãs, sentiu-se que ela estava aterrorizada com a perspectiva de ser forçada a viver uma nova vida num país desconhecido, rodeada de estranhos, novas ligações e com um marido que, no fundo, mal conhecia. Não existe nada que mostre se a nova Grã-Duquesa se sentia infeliz. Se sofria, fazia-o em silêncio, sem se queixar uma única vez. No entanto o sentimento geral na sociedade de São Petersburgo era de simpatia para com aquela jovem ingênua que se tinha casado com um homem conhecido pela sua rudeza e que se dizia esconder uma vida de imoralidade viciosa.

Sergei era considerado um homem bonito, sempre vestido no seu uniforme verde-escuro que lhe dava um aspecto de respeito e conservadorismo. As pessoas que o conheciam diziam que sempre que estavam ao pé dele sentiam sempre que, por detrás da sua expressão controlada, havia uma camada secreta de raiva e frustração. Ele adorava a sua mulher, venerava a sua beleza e cobria-a de presentes como as mais caras jóias e peles, mas era frequente ele censurar o comportamento dela em público se ela se esquecesse das suas instruções ou cometesse o que ele considerava ser uma falta nas regras de etiqueta.

Ninguém que via a Grã-Duquesa Isabel naqueles dias se esquecia dela. “Ela era a criatura mais bela de Deus que eu alguma vez vi”, escreveu um escritor contemporâneo. No entanto, embora se tivessem deixado levar pela sua beleza e apesar de ela ser jovem, alegre e uma pessoa que gostava de desfilar as jóias e roupas que o seu marido lhe oferecia, nunca houve nenhum escândalo ligado ao seu nome.

A Grã-Duquesa Isabel converteu-se à Igreja Ortodoxa apenas dois anos depois do casamento, muito contra a vontade do seu pai. Quando o Grão-Duque de Hesse soube que o Czarevich Nicolau se tinha apaixonado pela sua filha mais nova, a Princesa Alice, ele recusou-se a permitir que outra filha sua abdicasse da sua fé luterana. A Rainha Vitória também não aprovava estas mudanças de religião e não gostava particularmente da ideia de ver a sua neta favorita noiva do herdeiro ao trono russo. Ela tinha-o achado charmoso, simples e natural quando ele visitara Windsor, mas ao mesmo tempo tinha ficado com a sensação de que ele tinha falta de estabilidade e não conseguia tomar decisões por si mesmo. O Imperador e a Imperatriz partilhavam a sua apreenção, mas por razões completamente diferentes, A Princesa Alice não tinha ficado muito bem vista quando visitara São Petersburgo. Alexandre III achou-a uma alemã típica e Maria Feodorovna ficou incomodada com a sua apatia, além disso ela queria ver o seu filho casado com a filha do conde de Paris e não via como aquela pequena Princesa de Hesse com um feitio tímido e quase hostil poderia ser uma boa esposa. Tal como o seu avô, Alexandre II, o Czarevich estava determinado a conseguir aquilo que queria. “O meu sonho é casar-me com a Alice de Hesse”, escreveu ele no seu diário no dia 21 de dezembro de 1889.

Isabel teve uma grande responsabilidade para com a relação do seu sobrinho com a sua irmã. Foi ela que incentivou o amor entre ambos e convenceu a Rainha Vitória (que queria casar Alice com o seu neto Alberto) a aceitar uma possível união entre a sua neta favorita e o Czarevich da Rússia. Finalmente em abril de 1894, o Imperador cedeu, e deu a sua permissão para que houvesse noivado. Nicolau pediu Alice em casamento, mas como esposa do Czarevich e herdeiro ao trono, a Princesa sabia que teria de mudar de religião e, a principio, não conseguiu decidir-se se aceitaria o pedido ou não. “A pobrezinha chorou muito,” escreveu Nicolau no seu diário onde descreveu a conversa que teve com ela que se prolongou até à meia-noite. No dia 8 de abril, no entanto, chegou “um dia lindo e inesquecível” quando o jovem casal foi até ao quarto da Rainha Vitória de mão dada para lhe comunicar que tinham chegado a um acordo. “Fiquei bastante surpreendida”, escreveu a Rainha Vitória no seu diário, “Pensava que, por muito que o Nicky quisesse ir em frente com isto, a Alice não se iria decidir.” O casamento realizou-se em novembro e Alexandra foi coroada Czarina juntamente com Nicolau que passou a ser o Czar de Todas as Rússias.

Em 1891, Isabel e Sergei que não tinham filhos praticamente adotaram os seus sobrinhos Maria e Dmitri Pavlovich, filhos do irmão de Sergei, Paulo. A mãe das crianças tinha caído quando tentava saltar para um barco em andamento e estava grávida de Dmitri. O bebê nasceu prematuro e a mãe morreu poucas horas depois. O pai ficou em estado de choque com a morte da esposa e aceitou de bom grado a ajuda do irmão e da cunhada. Muitos não acreditavam que o bebê fosse sobreviver, mas Sergei ajudou-o, dando-lhe os banhos prescritos pelos médicos, cobrindo-o com mantas de algodão e enchendo o seu berço com garrafas de água quente para manter a temperatura do bebê regular. “Estou a gostar muito de tomar conta do Dmitri,” escreveu Sergei no seu diário. Mais tarde Dmitri seria um dos assassinos de Rasputin, juntamente com o Príncipe Felix Yussopov. Nesse ano Sergei foi também nomeado Governador de Moscou e a família mudou-se para a nova cidade.

A desastrosa guerra Russo-Japonesa de 1904 trouxe uma tarefa à Grã-Duquesa que ela cumpriu de uma forma que deixaria orgulhosa a sua avó Vitória se ela fosse ainda viva. Como esposa do Governador de Moscou, Isabel era líder das organizações da Cruz Vermelha da cidade. Ela enviou comboios-ambulância e equipamento para os soldados enquanto organizava salas de trabalho no Palácio do Kremlin e estava lá todos os dias a supervisor e dar motivação as centenas de mulheres de todos os estratos sociais que trabalhavam lá a empacotar material bélico, medicamentos, comida e roupa para os soldados na frente de combate. Vestia-se sempre de forma simples de azul ou cinzento, estava sempre lá de boa-vontade, tinha sempre um sorriso nos lábios ou um elogio para quem trabalhava, nunca perdia a paciência mesmo quando se cometiam erros e estava sempre pronta para executar os trabalhos mais difíceis.

Morte do marido
No dia 4 de fevereiro de 1905 quando Isabel estava a caminho dos seus quartos privados no palácio onde vivia com o marido e os sobrinhos, ouviu uma explosão que partiu todos os vidros da sua casa. Depois de muitos anos ela sabia que aquilo que temia (e o seu marido esperava) tinha acontecido. Durante muitos anos Sergei tinha-a proibido de andar na mesma carruagem dele e justificava-o dizendo que sabia do ódio que os habitantes de Moscou sentiam por ele.

Sem esperar por alguém para perguntar o que tinha acontecido ou sequer vestir um casaco, Isabel desceu as escadas a correr até chegar ao dia frio de inverno e seguiu um rasto de fumo e cheiro a pólvora que a levaram até à carruagem despedaçada do seu marido da qual apenas restavam os corpos mutilados dos cavalos. Quando chegou os guardas apressavam-se a cobrir o que restava do corpo do marido com os seus casacos.

Começaram a cair-lhe lágrimas e ela ajoelhou-se junto da mancha de sangue na neve, com a multidão a começar a reunir-se à sua volta, olhando horrorizada o macabro espectáculo enquanto a polícia e os soldados procuravam o assassino por entre as pessoas que se encontravam perto do palácio. Algumas horas antes ele tinha saído de casa com uma expressão preocupada, mas a assegurar-lhe que não havia nada com que se preocupar. Embora não tivessem um casamento perfeito, ele era o seu marido que sempre a tinha ajudado a adaptar-se à vida na Rússia e a tratava bem. Ele estava consciente do perigo que corria, mas mesmo assim nunca abandonou as suas responsabilidades e deu o seu melhor no cargo que ocupava. Contudo a sua austeridade quase fanática e a sua crueldade vingativa em certas ocasiões tinham feito com que ganhasse muitos inimigos. Ele era um anti-revolucionário e um autocrata quase tirano, mas ela estava casada com ele há vinte anos e era das únicas que conhecia toda a sua personalidade.

A partir desse dia, Isabel nunca mais comeu carne nem peixe. Quando chegou a casa dividiu as jóias que o seu marido lhe tinha oferecido em três e deu algumas aos seus sobrinhos Maria e Dmitri Pavlovich, devolveu as jóias da coroa e vendeu o resto. O dinheiro que ganhou das jóias foi para a caridade e para o Convento de Maria e Marta em Moscou que passou a visitar com muita frequência, sempre de luto.

Freira
A alta sociedade de São Petersburgo nunca mais a voltou a ver. Só muito raramente Isabel visitava a irmã e a família em Czarskoe Selo e, em 1910, decidiu juntar-se definitivamente à Irmandade de Marta e Maria, doando todas as roupas e pedaços de joalharia que ainda lhe restavam. Não ficou nada, nem sequer com a aliança de casamento. “Este véu,” disse o Bispo Triphonius quando ela entrou no Convento, “vai-te esconder do mundo, e o mundo vai estar escondido de ti, mas vai ser uma testemunha dos teus bons trabalhos que irão brilhar perante Deus e glorificar o Senhor.” A sua nova vida era passada nos quartos pequenos do Convento, apenas mobilados com cadeiras brancas. Ela dormia numa cama de madeira sem colchão e com uma almofada dura. Queria sempre as tarefas mais difíceis, chegando a cuidar de 15 doentes na ala hospitalar sozinha e raramente dormia mais de três horas. Quando um paciente morria, ela passava a noite inteira junto dele (de acordo com a fé Ortodoxa) a rezar intermitentemente sobre o corpo morto.

Quando ela se tornou freira, a sua sobrinha Maria Pavlovna casou-se, e o sobrinho Dmitri passou a viver com o Czar e a sua família.

Apesar de tudo, ela nunca se tornou rígida, severa ou deprimida e até manteve algum do seu divertimento que a tinha tornado encantadora quando jovem. Uma vez quando a sua irmã, a Princesa Vitória, estava no convento de visita com a sua segunda filha, a Princesa Louise, a porta do quarto delas abriu-se de manhã cedo e uma pequena cabeça espreitou a rir-se e a dizer “Olá”. Abismada, Vitória pensou tratar-se de um rapaz mal-educado que tinha conseguido entrar no convento e estava a invadir o seu quarto, mas depressa percebeu aliviada que se tratava da sua irmã mais nova, sem o seu véu e com o cabelo curto.

Depois de entrar no convento, Isabel apenas visitou São Petersburgo em duas ocasiões: quando se celebraram os 300 anos de poder dos Romanov em 1913 e quando rebentou a Primeira Guerra Mundial em 1914 onde ajudou a sua irmã com os planos de ajuda a soldados feridos. Durante muitos anos, as instituições apoiadas por Isabel ajudaram os pobres e os órfãos de Moscou. Ela e outras freiras da sua irmandade trabalhavam com os pobres todos os dias e foram responsáveis pela abertura de discussão sobre a possibilidade de permitir o acesso de mulheres a posições de maior importância dentro da igreja. A Igreja Ortodoxa recusou esta ideia, mas abençoou e encorajou os esforços de Isabel para com os pobres.

Em 1917 rebentou a revolução e, as ligações de Isabel à família imperial causaram-lhe muitos problemas.

Prisão e Morte
Na Primavera de 1918, Lenin ordenou à Cheka que prendesse Isabel. Mais tarde ela seria exilada, primeiro em Perm e depois em Ekaterinburgo onde também se encontrava a sua irmã Alexandra e a sua família, mas nenhuma das duas sabia da presença da outra na cidade. Mais tarde ela iria juntar-se a outros membros da família Romanov como o Grão-Duque Sergei Mikhailovich, o Príncipe João Constantinovich, o Grão-Duque Constantino Constantinovich, o Grão-Duque Igor Constantinovich e Vladimir Pavlovich Paley. Com os membros da família vieram o secretário de Sergei, Feodor Remez e Varvara Yakovlena, uma freira da irmandade de Isabel. Todos eles foram levados para Alapaevsk no dia 20 de maio de 1918 onde foram presos na antiga Escola Napolnaya nos arredores da cidade. «ao lado Isabel(direita) com a irmã Alexandra e o cunhado czar Nicolau II»

Ao meio-dia do dia 17 de julho, o Oficial da Checa, Petr Startsev e alguns trabalhadores bolcheviques chegaram à escola. Tiraram aos prisioneiros todo o dinheiro e valores que tinham e anunciaram-lhes que seriam transferidos nessa mesma noite para uma fábrica em Siniachikhensky. Os guardas do Exército Vermelho receberam ordens para abandonar o local e foram substituídos por homens da Checa. Nessa noite os prisioneiros foram acordados e levados em carros numa estrada para Siniachikha. A cerca de 18 km de Alapaevsk havia uma mina abandonada com 20 metros de profundidade. Foi aqui que pararam. Os homens da Checa espancaram todos os prisioneiros antes de os atirar para a mina. Ainda antes de ser atirado, o Grão-Duque Sergei Mikhailovich foi morto a tiro por contestar e tentar espancar os guardas. Isabel foi a primeira a ser atirada. Apesar da profundidade apenas Feodor Remez morreu imediatamente.

De acordo com o testemunho de um dos assassinos, Isabel e os outros prisioneiros sobreviveram à queda na mina, o que levou o comandante a atirar as granadas. Depois das explosões, ele disse ter ouvido Isabel e os outros cantarem um hino russo do fundo da mina. Enervado, o comandante atirou uma nova rajada de granadas, mas continuou a ouvir-se os prisioneiros cantar. Finalmente foi atirada uma grande quantidade de arbustos para tapar a mina e o comandante deixou um guarda a vigiar o local antes de partir.

Na manhã de 18 de julho de 1918, o chefe da Checa de Alapaevsk trocou uma série de telegramas com o chefe do Soviete Regional de Ekaterinburgo que tinha estado envolvido no massacre da família imperial. Estes telegramas tinham sido planeados com antecedência e diziam que a escola tinha sido atacada por um “gang desconhecido”. Pouco tempo depois Alapaevsk caiu nas mãos do Exército Branco.

No dia 8 de outubro de 1918, os Brancos descobriram os restos mortais de Isabel e dos seus companheiros dentro da mina onde tinham sido assassinados. Isabel tinha morrido devido a ferimentos resultantes da sua queda de 20 m, mas tinha ainda encontrado forças para fazer uma ligadura na cabeça do Príncipe Ioann. Os seus restos mortais foram retirados da mina e levados para Jerusalém onde estariam longe das mãos dos bolcheviques. Até hoje continuam enterrados na Igreja de Maria Madalena.

Isabel foi canonizada pela Igreja Ortodoxa Fora da Rússia em 1981 e pela Igreja Ortodoxa Russa em 1992 como Nova Mártir Isabel. Os principais templos que lhe são dedicados são o Convento de Marfo-Mariinsky que ela fundou em Moscou e o Convento de Santa Maria Madalena no Monte das Oliveiras, que ela e o marido ajudaram a construir. Era é uma das mártires do século XX que está representada numa das estátuas acima da Grande Porta Oeste na Abadia de Westminster em Londres, Inglaterra.

Outra estátua de Isabel foi construída após a queda do Comunismo no jardim do seu convento em Moscou. Na inscrição pode ler-se “À Grã-Duquesa Isabel Feodorovna: Com arrependimento.”

Isabel Feodorovna foi assassinada por bolcheviques no dia 17 de julho de 1918 quando tinha 54 anos.

Fonte: romanov.blogs.sapo.pt

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sábado, 8 de agosto de 2009

Abre aspas – Informação

Recebi uma advertência, sobre uma pessoa colocada aqui no meu blog, na postagem sobre a Dinastia de Bragança, e achei melhor informar a quem se refere: Maria Pia, que se diz filha ilegítima de D. Carlos I, rei de Portugal. Esse texto abaixo foi retirado Brasil Imperial



Maria Pia , equívocos e certezas


Foi publicada e dela fizeram referências alguns órgãos de comunicação, uma biografia de Jean Pailler (militar francês que durante quatro anos foi Adido de Defesa da Embaixada de França em Portugal e que publicou também uma biografia do Rei D. Carlos) intitulada "Maria Pia - a Mulher que queria ser rainha de Portugal".

O livro e, sobretudo, a personagem, não mereceriam qualquer referência se o seu reaparecimento inesperado não tivesse causado perplexidade e confusão nos mais desprevenidos e não estivesse servindo a declarados inimigos da Monarquia como arma de ataque à legitimidade dinástica do Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança, cuja visibilidade tem vindo a aumentar e tanto os incomoda.

Maria Pia, que se chamou antes Hilda de Toledano, era filha de uma senhora brasileira, Amélia de Laredó y Múrcia, que viveu temporariamente em Portugal no início do século XX. Neta de um rico "barão" da borracha, teve umas infância e juventude despreocupadas passadas na Europa, nos lugares onde se cruzavam a aristocracia e os burgueses ricos, foi jornalista, escreveu romances, casou com um rico cubano, depois com um general italiano. E pela década de 50 do século passado, começou a aparecer com outro nome - Maria Pia - e a dizer-se filha ilegítima do Rei D. Carlos.

Numas "memórias" que publicou em 1957, conta histórias do seu passado com episódios perfeitamente inverossímeis, que pretenderam afirmar a sua filiação e a sua posição. A partir de 1958, conseguiu obter um documento que certificava, baseado apenas em testemunhas que apresentou, que na Igreja de San Fermin, em Madrid - que foi destruída durante a Guerra Civil espanhola, bem como todos os registros nela existentes - foi batizada com o nome de "Maria Pia de Saxe Coburgo-Laredó, da Casa de Bragança de Portugal", filha do Rei D. Carlos e inicia a sua pretensão ao trono português, gastando avultadas somas na manutenção de um estilo de vida que considerava digno dos seus títulos, em viagens e propaganda que enviava para supostos partidários portugueses (nos quais, curiosamente, chegou a incluir confessos republicanos e maçons) intitulando-se Duquesa de Bragança.

O resto da sua história rocambolesca tem apenas o interesse dos livros de aventuras. Convém dizer que foi processada várias vezes pelos Duques de Bragança, Senhor D. Duarte Nuno e Senhor D. Duarte Pio e que em 1997 o Supremo Tribunal de Justiça decidiu que Maria Pia devia ser registrada como tendo nascido em Lisboa, filha de pais desconhecidos. No fim da vida, casou com um português muito mais novo para poder ter passaporte português e perante o desinteresse da sua filha nas aventuras e heranças principescas, cedeu os seus "direitos" a um grotesco homem de negócios siciliano.

Maria Pia foi uma aventureira, brincou aos reis e rainhas, deu títulos e condecorações carnavalescos, com direitos que nunca teve nem poderia ter tido, foi usada em Portugal pela oposição a Salazar que a deixou cair após o 25 de Abril de 1974 (foi seu advogado em Portugal o Dr. Mário Soares, que sendo Primeiro Ministro em 1975, quando do falecimento do Duque de Bragança, Senhor D. Duarte Nuno, mandou uma pessoa do seu gabinete apresentar condolências em nome do Governo português). Esta a história com fim previsível mas lastimável. Convém, no entanto, para quem nunca tenha ouvido falar desta suposta "duquesa de Bragança", reter algumas certezas:

- Maria Pia, apesar dos documentos que exibiu, obtidos da forma como o foram e que em nada abona quem os emitiu, nunca conseguiu provar que era filha do Rei D. Carlos.

- Nunca foi reconhecida - ou sequer mencionada - nem pelo Rei D. Manuel II nem pelo Infante D. Afonso, que certamente saberiam da sua existência.

- O Supremo Tribunal de Justiça de Portugal não reconheceu a sua filiação e, assim, os nomes de família que usava.

- Ainda que pudesse ter sido filha do Rei D. Carlos, nunca teria direito a herdar quaisquer direitos sucessórios, por ser ilegítima.

- A Carta Constitucional da Monarquia, vigente até 5 de Outubro de 1910, estipulava de forma clara a sucessão do ramo dinástico de D. Maria II, dizendo expressamente no seu artigo 88º, "Extintas as linhas dos Descendentes legítimos da Senhora Dona Maria II, passará a Coroa à colateral".

- Após a morte do Rei D. Manuel II, em 1932, sem descendência, a linha colateral mais próxima, por varonia - artigo 87º da Carta Constitucional - é a dos descendentes do Rei D. Miguel (tendo sido revogada em 1958 a lei de banimento) é atualmente chefiada por Sua Alteza Real o Senhor D. Duarte, Duque de Bragança, sendo, portanto o legítimo Chefe da Casa Real Portuguesa.

Disse, em 1954, de Maria Pia, o escritor espanhol Wenceslau Fernandes Flores, que a conhecia bem desde a juventude: "talvez a capacidade mais desenvolvida nela, depois da sua grande sensibilidade artística, fosse a Fantasia". Parece estar tudo dito.

Texto de João Mattos e Silva - http://www.monarquia.online.pt

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Benção


"Que o caminho seja brando a teus pés, O vento sopre leve em teus ombros.Que o sol brilhe cálido sobre tua face, As chuvas caiam serenas em teus campos. E até que eu de novo te veja.... Que Deus te guarde na palma de Sua mão."
(Uma antiga bênção Irlandesa)
 
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