quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Loucura dos reis – loucura hispânica

Sexta feira santa de 1555, palácio de Tordesilhas, Joana (figura ao lado com Filipe Habsburgo) agonizava, a rainha de Castela, que passara 46 anos encerrada num cômodo, como louca. Cerca de 13 anos depois seu jovem bisneto – D. Carlos – estaria também agonizando, num castelo em que fora confinado por ordens de seu pai Filipe II. O castelo de Arévalo, onde Carlos ficara detido era o mesmo que a avó da própria rainha Joana (a 2ª mulher do rei João II de Castela, passara sua longa viuvez, como uma louca demente). Nesses episódios estão enraizados, simbolicamente, os distúrbios nervosos e psicóticos, que afligiriam tantos membros da família real espanhola nos séculos que se seguiram.

  • Com a possível exceção de Henrique VIII, com sua personalidade aberrante, a casa real inglesa ficaria livre do desequilibrio mental até os aparentes ataques de insanidade de Jorge III.
  • Os reis Valois e Bourbons da França, afora a deprressão que afetou alguns dos príncipes Bourbons, estiveram livres da loucura.
  • O rei sueco Eric XIV experimentou um ataque de insanidade.
  • O equilíbrio dos czares Ivan, o Terrível e Pedro, o Grande, esteve em questão.
Mas foi na Espanha que os Habsburgos e seus descendentes Bourbons, se revelaram mais atingidos por doenças, de natureza mental ou física.

Joana de Castela
A 3ª filha de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, não era uma princesa Habsburgo, mas se casaria com um príncipe dessa família. Em 1495, o irmão mais velho de Joana, João – casou com Margarete, filha do sacro imperador romano Maximiliano I, e Joana, com 16 anos foi dada em casamento ao filho e herdeiro de Maximiliano – o arquiduque Habsburgo Filipe. A irmã mais velha de Joana, Isabel, casou com o rei português e teve um filho – Miguel. Mas todos morreram e Joana ficou assim na condição de herdeira do vasto império crescente espanhol. Enquanto seu marido, já soberano de Flandres e duque de Borgonha, era o provável sucessor do pai como imperador. A mais rica herança estava entre o casal.

Filipe era um belo rapaz de cabelos louros, mas sob muitos aspectos era trapaceiro, egoísta e namorador. Desde o início de seu casamento, Joana mostrou-se muito ciumenta. O estresse pessoal agravou com a morte de sua mãe, Isabel de Castela em 23 novembro de 1504, que fez dela, pelo menos nominalmente, rainha do reino de Castela. Seu pai Fernando de Aragão assumiria o governo em nome dela. A partir daí Joana passou a ser pressionada pelo marido (com seus próprios planos para o reino de Castela) e por seu pai (decidido a conservar seu poder sobre uma Espanha unida) e Joana assim mergulhou numa depressão que jamais conseguiria sair por completo. Em 25 de setembro de 1506, Filipe morre de varíola ou sarampo em Burgos, tenta levar o corpo do marido para ser enterrado na distante Granada, mas em Torquemada sente dores de parto e em 14 de janeiro de 1507 nasce Catarina. Quando retornou à Espanha foi encarcerada por seu pai no castelo de Tordesilhas, por 46 anos. Seu marido foi finalmente enterrado no claustro do mosteiro vizinho de Santa Clara. Quando Fernando de Aragão morreu, seus territórios ficaram para Carlos, filho de Joana com Filipe. Carlos V não via a mãe desde menino e numa visita ficou chocada com sua aparência e suas roupas e o local deprimente. Sugeriu que sua irmã Catarina (que se casa com o rei de Portugal João III), que desde seu nascimento vivia com a mãe, devia deixar o local, Joana ficou histérica.

D. Carlos
Em circunstâncias diferentes, mas por razões semelhantes, o bisneto de Joana – D. Carlos, também acabou se vendo privado dos poderes que como herdeiro legítimo do Império Espanhol, poderia ter esperado exercer. Mas a história de D. Carlos foi diferente, pois atraiu atenção tanto em seu próprio tempo quanto em gerações posteriores. Foi um ingrediente da leyenda negra, com que os inimigos de seu pai, Filipe II, procuraram denegrir sua reputação. Em apresentações de teatro da época, D. Carlos era mostrado como amigo do protestantismo liberal e desesperadamente apaixonado por sua bela e nobre madrasta – Elisabete de Valois.

A realidade da curta vida de D. Carlos pareceu sintetizar como os mais ricos e poderosos príncipes podem ser assediados pela tragédia pessoal com implicações políticas e públicas. Talvez D. Carlos nunca tenha sido completamente insano, mas é patente que sofreu de um severo distúrbio de personalidade desde o nascimento; este seria agravado por um acidente que lhe feriu a cabeça em 1562. A mãe e a avó foram princesas portuguesas, cuja família parece ter havido ocasionalmente um traço de loucura. Mais provavelmente, sua fragilidade mental teve origem orgânica. Sua mãe, Maria de Portugal, morreu 4 dias depois de seu nascimento. Teve pouco contato com o pai.

Carlos era uma criança difícil e temperamental. Demorou a falar e gaguejou muito até o início da vida adulta, tinha dificuldade em enunciar as palavras e distinguir as letras "r" e "l". Era voluntarioso, obstinado e avesso aos estudos. Não encontrava prazer nos estudos, nem nas armas, nem na equitação, nem nas coisas virtuosas, honestas e agradáveis, mas somente em fazer mal aos outros. Admirava seu avó Carlos V, imperador do sacro império romano.

Carlos era físicamente pouco atraente, era deformado: tinha uma cabeça anormalmente grande, um ombro mais alto que o outro, as pernas finas e compridas, uma ligeiramente maior que a outra, a mão direita aparentemente murcha, a pele pálida e baixo. Tinha um apetite devorador. Quando as pessoas lhe davam menos atenção do que julgava merecer, mandava chicoteá-las ou surrava-as com vara.

As histórias do mau comportamento de Carlos eram lendárias e, mesmo que sua veracidade seja por vezes duvidosa, são suficientes para demonstrar sua irascibilidade patológica. Entre os documentos encontrados após sua morte, estava um papel, escrito com sua letra – "Lista de meus amigos": a rainha Elisabete "que sempre foi boa pra mim"; e D. Juan da Áustria (seu tio, o belo e atraente filho ilegítimo do imperador D. Carlos V). Outra lista intitulada "Lista de meus inimigos": "o rei, meu pai; Ruis Gomes de Silva; a princesa de Eboli; o duque de Alva."

Em 18 de janeiro de 1568, depois que D. Carlos foi se deitar, Filipe acompanhado por alguns de seus nobres, entrou nos aposentos de Carlos, carregando pregos e martelos, abriram a porta sem dificuldade e agarraram os braços do príncipe. Os auxiliares selaram as janelas, as armas retiradas, assim como todos os papéis . Carlos foi confinado na torre do castelo de Arévolo, onde Isabel de Portugal, a avó louca da sua própria avó Joana, passara os anos de seu declínio, e teve como guardião o filho do brutal carcereiro da avó.

D. Carlos permanecia vivo, às vezes lúcido, às vezes ensandecido. Era mantido em rigoroso confinamento, não permitindo sair do quarto, nem se mostrar nas janelas. Os relatos da morte de D. Carlos variam. Fisicamente fraco e com febre morreu na aurora do dia 24 de julho de 1568, lúcido. Filipe decretou luto geral de 9 dias e 1 ano de luto na corte. A madrasta de Carlos, Elisabete de Valois, pareceu mais triste que Filipe e disse: "Asseguro-lhe de que não me sinto menos infeliz do que se ele fosse meu próprio filho."



Por mais trágicas que tenham sido a vida e a morte de D. Carlos, seu pai talvez tivesse razão ao supor que, se houvesse vivido, a tragédia para a Espanha teria sido ainda maior.


Origem: A Loucura dos Reis' de Vivian Green

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Benção


"Que o caminho seja brando a teus pés, O vento sopre leve em teus ombros.Que o sol brilhe cálido sobre tua face, As chuvas caiam serenas em teus campos. E até que eu de novo te veja.... Que Deus te guarde na palma de Sua mão."
(Uma antiga bênção Irlandesa)
 
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