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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Loucura dos reis – trilogia medieval

Os reis medievais ingleses eram homens de personalidades diferentes, criados na tradição cristã, com sua autoridade limitada pelas responsabilidades que o costume impunha e pelos juramentos que faziam quando eram coroados.

Houve quatro reis muito menos bem sucedidos, cujos reinados foram perturbados por guerra civil e terminaram em desastre:
  1. João Sem Terra
  2. Eduardo II
  3. Ricardo II
  4. Henrique IV

Dos quatro, os três últimos foram privados de seus tronos e assassinados. Ricardo II e Henrique IV ascenderam ao trono quando menores de idade. João e Eduardo II se tornaram reis quando eram jovens adultos. Todos tinham um problema de personalidade.

  • João foi qualificado de possuído e enlouquecido por feitiçaria e bruxaria.
  • Eduardo II considerado perverso e não louco.
  • Ricardo II um esquizofrênico.
  • Henrique IV sofreu um grave colapso nervoso entre 1454 e 1456.



João – visto como o pior dos reis medievais ingleses, tirânico, imoral e injusto. Seu reinado foi cheio de perturbações: crescente insatisfação entre os barões, hostilidade do grande príncipe francês, Filipe Augusto. Em seu reinado o papa colocou a Inglaterra sob interdição eclesiástica, proibindo todos os cultos e cerimônias religiosas até que João cedesse e lhe prestasse vassalagem. Um ato que muitos consideraram humilhante. Perdeu as insígnias reais e adoeceu gravemente, falecendo em 18 de outubro de 1216.

Sua personalidade deve ser compreendida à luz de sua ancestralidade e criação. Ele veio de uma longa linhagem de príncipes competentes, mas desequilibrados, os condes de Anjou. O pai de João, Henrique II, rei da Inglaterra e por meio de um casamento com Alienor da Aquitânia, duque de Aquitânia. A família angevina, os Plantagenetas, conhecidos como a "prole do demônio", conta uma lenda de um ancestral, conde de Anjou. Henrique II pai de João, um homem de grande competência e implacável determinação, agitado e dado a violentas explosões de raiva. Sua mãe Alienor de Aquitânia, uma mulher imperiosa e turbulenta. João foi o caçula, mimado preferia o luxo da corte às artes marciais, imaturo no comportamento e na aparência.A mãe o desprezava e o pai o protegia e as vezes o desamparava. Temperamental e egocêntrico, foi tanto vítima quanto o autor dos problemas que iriam finalmente esmagá-lo.

João Sem Terra, viveu numa era brutal, suavizada pela prece e pela santidade, mas marcada pela mutilação e banhada em sangue. Tinha ataque de fúria e sua crueldade excessiva, faziam pensar que era louco. A raiva lhe contorcia o semblante. Foi excessivamente cruel. O seu desequilíbrio mental, se revela de maneira mais convincente em seu senso de insegurança, que motivava o seu tratamento cruel e vingativo que dispensava aos inimigos e na inveja e desconfiança com quem tendia a tratar, tanto amigos quanto adversários. A inimizade de dois dos homens mais poderosos da época, Filipe Augusto da França e o papa Inocêncio III, acabou se confrontando com uma situação que escapava a seu controle. João foi mais azarado do que louco.



Eduardo II – neto de João Sem Terra, se tornou rei da Inglaterra em 1307. Seu reinado foi uma tragédia pessoal. Embora sua personalidade tivesse traços anormais e parecesse inadequada para um rei, Eduardo não foi louco. Como no caso de tantos outros príncipes, sua personalidade foi moldada por sua criação. Filho de Eduardo I, que o nomeou príncipe de Gales em 1301. Sua mãe, Eleonora de Castela morreu quando ele tinha 13 anos.

Se transformou num homem forte e bonito, apreciador da equitação e mais culto que a maioria dos grandes senhores da corte. Suas recreações pareciam cada vez menos as esperada de um cavaleiro, muito menos de um príncipe real:

  • passeios de barco
  • natação
  • ocupações servis, plantar e cavar

Ao que parece ele encontrava mais satisfação na companhia de jovens e robustos operários do que na de cavaleiros da corte. O que pareceu ainda mais inadequado e chocante foi a obsessiva afeição de Eduardo por um jovem fidalgo rural da corte, Gaveston. Por razões de conveniência, os dois casaram. Gaveston casou com a sobrinha do rei, Margaret de Clare e teve uma filha. Eduardo casou com a filha de 12 anos do rei da Franca, Isabel e tiveram 2 filhos e 2 filhas. Seu favorito foi morto e Eduardo nunca se esqueceu nem perdoou os condes que haviam acossado Gaveston até a morte. Sua afeição pelo favorito, a única constante de sua vida, condicionaria tudo o que aconteceria aos 15 anos que ainda lhe restavam. Dali em diante haveria "ódio perpétuo... entre o rei e os condes".

Sei reinado foi mais estável e mais forte nos últimos anos do que no começo. Recobrou seus poderes reais, através de Hugh Despenser e de seu filho. Decidiu consolidar sua posição reforçando o tesouro real por meio de medidas fiscais extorsivas e do confisco de propriedades de barões de lealdade duvidosa. O descontentamento era geral, o ressentimento crescente. Henrique e Despenser foram aprisionados. Hugh foi morto e provavelmente o rei tenha tido um assassinato brutal.

Eduardo II foi enterrado na abadia de St. Peter, em Gloucester, onde seu túmulo se tornou o centro de um pequeno culto. Seu coração foi removido, posto em uma urna de prata e enterrado com sua rainha na igreja franciscana de Newgate em Londres. Quando ela morreu 20 anos depois em 1358, ela foi enterrada com seu vestido de noiva.



Ricardo II – sucedeu seu avó Eduardo III em 1337. Seu reinado foi perturbado por guerras civis violentas e terminou com sua deposição e assassinato. Ele se tornou cada vez mais introspectivo e sua apreensão da realidade pareceu reduzir-se.

Tinha 11 anos quando se tornou rei. Seu avô, Eduardo III foi um grande príncipe guerreiro. Seu pai, o Príncipe Negro morrera um ano antes de sua acessão, tinha notável reputação como cavaleiro e soldado, mas Ricardo era um rapaz com interesses mais estéticos do que militares. Formou-se em sua mente uma concepção semimística do direito divino a que ele se aferrou até o fim. Era tão egocêntrico que chegava a ser narcisista. Em seus retratos parece bonito e elegante, com quase 1.80 m de altura e uma vasta cabeleira loira. Tomava banho regularmente, um hábito inusitado em seu tempo, e foi o «inventor do lenço de bolso». O rei mais culto de sua linhagem. Ardoroso e sensível, ardiloso e calculista; era propenso a ataques de irritação, mas era generoso com os amigos. Amava a mãe e tornou-se intensamente devotado à sua mulher, Ana da Boêmia. Havia um elemento bissexual em sua personalidade. Teve um amigo íntimo a quem concedeu grande poder.

Ricardo desapareceu nas sombras, recolhendo-se finalmente no castelo de Pontefract, onde seu carcereiro o matou de fome. Morreu antes de fevereiro de 1400 e foi levado para o sepultamento de honra em Westminster, tinha apenas 34 anos. Parece mais provável que tenha sofrido de uma depressão moderada ou aguda, que por vezes tocava as raias da insanidade maníaco-depressivo.


Origem: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A Loucura dos reis – estroinices florentinas


Os Medicis não foram uma família real, mas príncipes italianos politicamente sagazes. Governaram Florença da década de 1430 até a morte do último grão duque, Gian Gastone em 1737; com exceção de um breve período no início do século XVI. Florença atingiu seu apogeu sob a hábil orientação do verdadeiro fundador da família – o grande príncipe negociante Cosimo dei Medici e de seu neto, Lorenzo, o magnífico.





Sua ampla rede bancária fez dos Medicis uma força na economia e política, na Europa ocidental. Florença foi enriquecida com belíssimos edifícios, pinturas e esculturas graças à patronagem dos Medicis e seus partidários.

No final do século XVII os florentinos e os Medicis viviam da reputação e dos recursos de um passado esplendoroso. Viviam de uma fachada que não conseguia esconder a decadência e a impotência política da Toscana. Havia desemprego e pobreza. Florença se tornara uma potência de terceira categoria. Exército pequeno e marinha praticamente inexistente. O grão duque Cosimo III governou a Toscana por 53 anos. Nem bom nem mau, seu governo foi afetado por certas facetas de seu próprio caráter que são em certo sentido vitais para a compreensão da personalidade de seu filho e sucessor, o último grão duque, Gian Gastone.

Cosimo III foi criado por uma mãe pietista(*), unida por um casamento infeliz ao seu pai, o grão duque Ferdinando, que governou Florença de 1621 a 1670. Cosimo tornou-se um beato tacanho, carrancudo e fervoroso, mais bem talhado para a vida eclesiástica que para carreira secular. Era intolerante com qualquer desvio em relação à ortodoxia, fosse na moral ou na crença. Tentou impedir mulheres de serem atrizes, proibiu a entrada de homens em casas que houvesse moças solteiras e impôs uma série de decretos intolerantes e anti-semíticos.

Casou com Marguerite Louise d'Orleans, sobrinha do rei francês Luis XIV. Houve uma enorme incompatibilidade conjugal. Ele austero e taciturno, avesso a contatos físicos que alguns suspeitassem que fosse homossexual. Ela, bonita, cheia de vida, fisicamente vigorosa, orgulhosa, teimosa e egoísta. Dormiam juntos, uma vez por semana, sob a supervisão de um médico. Finalmente um herdeiro nasceu, Ferdinando, em 1663. Anna Maria nasce em 1667. O terceiro filho, Gian Gastone nasce 24 de maio de 1671. Marguerite assim depois de cumprir com sua obrigação, parte para França em junho de 1675, para nunca mais voltar.

– Seus herdeiros, não teriam filhos:
  1. Ferdinando casou-se sem entusiasmo com uma princesa bávara, Violante. Contraiu sífilis e morreu 10 anos antes do pai.
  2. Anna Maria casou com um eleitor palatino, Johann William. Três das irmãs de William eram a imperatriz e as rainhas de Portugal e Espanha. Sem descendência.
  3. Gian Gastone com 23 anos casou-se com uma rica viúva, Anna Maria, filha do duque de Saxe-Lauenburgo. Uma mulher rude, desagradável, de gosto vulgar, enorme e amedrontadora, com um aspecto grosseiro e desgracioso. A reação de Gian à vida conjugal foi de horror. Em busca de consolo, voltou-se para seu amigo íntimo, seu lacaio que se tornou seu amante. Gian adquiriu uma preferência pelo sexo com prostitutos, que nunca perderia. Viveu na França, Hamburgo e em 1705 voltou definitivamente para Florença. Sem descendência.

Cosimo sem sucessor, se agarrou a idéia do herdeiro vir de seu obeso irmão, o cardeal Francesco Maria, que pediu a dispensa das sagradas ordens. Mas o cardeal morreu antes de casar. Dois anos depois Ferdinado morre. Em 1723 o idoso grão duque Cosimo III morre e Gian Gastone com 52 anos o sucedeu.

Gian Gastone tinha pouco interesse por assuntos governamentais, mas escolheu bem os seus ministros, e o governo tornou-se sob alguns aspectos melhor e certamente mais liberal, do que havia sido o de seu pai. A igreja tornou menos severa. Teve um sistema de governo mais liberal e esclarecido. Sua vida era reclusa no palácio Pitti e via o mundo através de uma névoa mais ou menos permanente de embriaguez. Bebia em grande quantidade vinhos e destilados abrasadores. Em 1730, Gian torceu o tornozelo e ficou de cama, nos 7 anos seguintes, só a abandonaria em ocasiões muito especiais.

Gian Gastone tornara-se um soberano negligente, um alcoólatra com gostos pervertidos. Havia sido um jovem promissor e de índole humana e bondosa. Deve ter sido vítima de um transtorno de personalidade que as circunstâncias – uma criação sem afeto, um pai distante e austero e um casamento infeliz – todas conspirando para transformar na ruína de um homem.

Em 1731, as grandes potências reuniram-se em Viena e decidiram pela sucessão de Gian, o herdeiro seria D. Carlos, duque de Parma, filho de Filipe V da Espanha. Mas D. Carlos tornou-se rei das Duas Sícilias e foi substituido como herdeiro por Francisco Estêvão, duque de Lorena, marido de Maria Teresa Habsburgo, futuro imperador Francisco I.

Em julho de 1737, Gian ficou doente e faleceu em 14 de julho, enterrado com grande pompa no duomo. Se fora um governante ineficiente, a morte redimiu sua reputação junto aos florentinos; ele foi carregado até o túmulo com todo o cerimonial de que a cidade da ostentação era capaz.


Anna Maria a irmã de Gian, viveu no palácio Pitti mais 6 anos, em seu testamento, legou todos os seus bens e propriedades pessoais à cidade de Florença, por toda a eternidade. Com isso Anna Maria reparou a estroinices(•) do irmão e pode-se dizer que os Medicis recompensaram os florentinos pela lealdade que demonstraram à família ao longo de 300 anos.



Ferdinando e Anna Maria, filhos de Cosimo III, irmãos de Gian Gastone




(•)estróina
es.trói.na
adj m+f Diz-se da pessoa extravagante, dissipadora, estouvada. s m+f Essa pessoa. Col: farândola, súcia.

(*)pietismo
pi.e.tis.mo
sm (fr piétisme) 1 Movimento iniciado dentro do protestantismo, pelos fins do século XVII, na Alemanha, segundo o qual a verdadeira religiosidade consiste na liberdade da consciência, na piedade subjetiva e nas obras de misericórdia, sendo o dogma secundário ou supérfluo. 2 fam Fanatismo.



Fonte: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green e Dicionário Michaelis

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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Loucura dos reis – loucura hispânica

Sexta feira santa de 1555, palácio de Tordesilhas, Joana (figura ao lado com Filipe Habsburgo) agonizava, a rainha de Castela, que passara 46 anos encerrada num cômodo, como louca. Cerca de 13 anos depois seu jovem bisneto – D. Carlos – estaria também agonizando, num castelo em que fora confinado por ordens de seu pai Filipe II. O castelo de Arévalo, onde Carlos ficara detido era o mesmo que a avó da própria rainha Joana (a 2ª mulher do rei João II de Castela, passara sua longa viuvez, como uma louca demente). Nesses episódios estão enraizados, simbolicamente, os distúrbios nervosos e psicóticos, que afligiriam tantos membros da família real espanhola nos séculos que se seguiram.

  • Com a possível exceção de Henrique VIII, com sua personalidade aberrante, a casa real inglesa ficaria livre do desequilibrio mental até os aparentes ataques de insanidade de Jorge III.
  • Os reis Valois e Bourbons da França, afora a deprressão que afetou alguns dos príncipes Bourbons, estiveram livres da loucura.
  • O rei sueco Eric XIV experimentou um ataque de insanidade.
  • O equilíbrio dos czares Ivan, o Terrível e Pedro, o Grande, esteve em questão.
Mas foi na Espanha que os Habsburgos e seus descendentes Bourbons, se revelaram mais atingidos por doenças, de natureza mental ou física.

Joana de Castela
A 3ª filha de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, não era uma princesa Habsburgo, mas se casaria com um príncipe dessa família. Em 1495, o irmão mais velho de Joana, João – casou com Margarete, filha do sacro imperador romano Maximiliano I, e Joana, com 16 anos foi dada em casamento ao filho e herdeiro de Maximiliano – o arquiduque Habsburgo Filipe. A irmã mais velha de Joana, Isabel, casou com o rei português e teve um filho – Miguel. Mas todos morreram e Joana ficou assim na condição de herdeira do vasto império crescente espanhol. Enquanto seu marido, já soberano de Flandres e duque de Borgonha, era o provável sucessor do pai como imperador. A mais rica herança estava entre o casal.

Filipe era um belo rapaz de cabelos louros, mas sob muitos aspectos era trapaceiro, egoísta e namorador. Desde o início de seu casamento, Joana mostrou-se muito ciumenta. O estresse pessoal agravou com a morte de sua mãe, Isabel de Castela em 23 novembro de 1504, que fez dela, pelo menos nominalmente, rainha do reino de Castela. Seu pai Fernando de Aragão assumiria o governo em nome dela. A partir daí Joana passou a ser pressionada pelo marido (com seus próprios planos para o reino de Castela) e por seu pai (decidido a conservar seu poder sobre uma Espanha unida) e Joana assim mergulhou numa depressão que jamais conseguiria sair por completo. Em 25 de setembro de 1506, Filipe morre de varíola ou sarampo em Burgos, tenta levar o corpo do marido para ser enterrado na distante Granada, mas em Torquemada sente dores de parto e em 14 de janeiro de 1507 nasce Catarina. Quando retornou à Espanha foi encarcerada por seu pai no castelo de Tordesilhas, por 46 anos. Seu marido foi finalmente enterrado no claustro do mosteiro vizinho de Santa Clara. Quando Fernando de Aragão morreu, seus territórios ficaram para Carlos, filho de Joana com Filipe. Carlos V não via a mãe desde menino e numa visita ficou chocada com sua aparência e suas roupas e o local deprimente. Sugeriu que sua irmã Catarina (que se casa com o rei de Portugal João III), que desde seu nascimento vivia com a mãe, devia deixar o local, Joana ficou histérica.

D. Carlos
Em circunstâncias diferentes, mas por razões semelhantes, o bisneto de Joana – D. Carlos, também acabou se vendo privado dos poderes que como herdeiro legítimo do Império Espanhol, poderia ter esperado exercer. Mas a história de D. Carlos foi diferente, pois atraiu atenção tanto em seu próprio tempo quanto em gerações posteriores. Foi um ingrediente da leyenda negra, com que os inimigos de seu pai, Filipe II, procuraram denegrir sua reputação. Em apresentações de teatro da época, D. Carlos era mostrado como amigo do protestantismo liberal e desesperadamente apaixonado por sua bela e nobre madrasta – Elisabete de Valois.

A realidade da curta vida de D. Carlos pareceu sintetizar como os mais ricos e poderosos príncipes podem ser assediados pela tragédia pessoal com implicações políticas e públicas. Talvez D. Carlos nunca tenha sido completamente insano, mas é patente que sofreu de um severo distúrbio de personalidade desde o nascimento; este seria agravado por um acidente que lhe feriu a cabeça em 1562. A mãe e a avó foram princesas portuguesas, cuja família parece ter havido ocasionalmente um traço de loucura. Mais provavelmente, sua fragilidade mental teve origem orgânica. Sua mãe, Maria de Portugal, morreu 4 dias depois de seu nascimento. Teve pouco contato com o pai.

Carlos era uma criança difícil e temperamental. Demorou a falar e gaguejou muito até o início da vida adulta, tinha dificuldade em enunciar as palavras e distinguir as letras "r" e "l". Era voluntarioso, obstinado e avesso aos estudos. Não encontrava prazer nos estudos, nem nas armas, nem na equitação, nem nas coisas virtuosas, honestas e agradáveis, mas somente em fazer mal aos outros. Admirava seu avó Carlos V, imperador do sacro império romano.

Carlos era físicamente pouco atraente, era deformado: tinha uma cabeça anormalmente grande, um ombro mais alto que o outro, as pernas finas e compridas, uma ligeiramente maior que a outra, a mão direita aparentemente murcha, a pele pálida e baixo. Tinha um apetite devorador. Quando as pessoas lhe davam menos atenção do que julgava merecer, mandava chicoteá-las ou surrava-as com vara.

As histórias do mau comportamento de Carlos eram lendárias e, mesmo que sua veracidade seja por vezes duvidosa, são suficientes para demonstrar sua irascibilidade patológica. Entre os documentos encontrados após sua morte, estava um papel, escrito com sua letra – "Lista de meus amigos": a rainha Elisabete "que sempre foi boa pra mim"; e D. Juan da Áustria (seu tio, o belo e atraente filho ilegítimo do imperador D. Carlos V). Outra lista intitulada "Lista de meus inimigos": "o rei, meu pai; Ruis Gomes de Silva; a princesa de Eboli; o duque de Alva."

Em 18 de janeiro de 1568, depois que D. Carlos foi se deitar, Filipe acompanhado por alguns de seus nobres, entrou nos aposentos de Carlos, carregando pregos e martelos, abriram a porta sem dificuldade e agarraram os braços do príncipe. Os auxiliares selaram as janelas, as armas retiradas, assim como todos os papéis . Carlos foi confinado na torre do castelo de Arévolo, onde Isabel de Portugal, a avó louca da sua própria avó Joana, passara os anos de seu declínio, e teve como guardião o filho do brutal carcereiro da avó.

D. Carlos permanecia vivo, às vezes lúcido, às vezes ensandecido. Era mantido em rigoroso confinamento, não permitindo sair do quarto, nem se mostrar nas janelas. Os relatos da morte de D. Carlos variam. Fisicamente fraco e com febre morreu na aurora do dia 24 de julho de 1568, lúcido. Filipe decretou luto geral de 9 dias e 1 ano de luto na corte. A madrasta de Carlos, Elisabete de Valois, pareceu mais triste que Filipe e disse: "Asseguro-lhe de que não me sinto menos infeliz do que se ele fosse meu próprio filho."



Por mais trágicas que tenham sido a vida e a morte de D. Carlos, seu pai talvez tivesse razão ao supor que, se houvesse vivido, a tragédia para a Espanha teria sido ainda maior.


Origem: A Loucura dos Reis' de Vivian Green

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domingo, 8 de novembro de 2009

A loucura dos reis – Jorge III, o louco

Jorge III do Reino Unido (nome de batismo: George William Frederick; 4 de junho de 1738 – 29 de janeiro de 1820), da Casa de Hanôver, foi Rei da Grã-Bretanha de 1760 até 1801. A partir do Ato de União de 1800, Jorge III passou a ser Rei do Reino Unido. Jorge III recebeu o cognome de o Louco devido à instabilidade mental causada pela doença crônica que sofria (porfíria). Era filho de Frederico, Príncipe de Gales e da princesa Augusta de Saxe-Gota, e sucedeu ao avô Jorge II. No reinado de Jorge III deu-se a independência dos Estados Unidos da América, até então 13 colônias britânicas.



No 60 anos de reinado de Jorge III, houve curtos períodos em que o equilíbrio de sua mente ficou evidentemente perturbado:
  • entre meados de outubro de 1788 e março de 1789;
  • fevereiro-maio de 1801;
  • fevereiro-junho de 1804 e
  • outubro de 1810;
daí em diante caiu num estado de aparente demência senil para qual é possível que sua perturbação mental anterior o tivesse predisposto.

Ainda que Jorge III tivesse fundamentalmente uma índole nervosa, há poucos indícios de que tenha sido vítima de fragilidade mental durante os primeiros 28 anos de seu reinado. O início de sua vida não revelou nunhuma debilidade física ou mental, embora já em 1758, dois anos antes de sua subida ao trono, lorde Waldegrave tenha feito um comentário sobre sua personalidade neurótica:
"uma espécie de infelicidade em seu temperamento... sempre que está insatisfeito... torna-se mal-humorado e silencioso, e se recolhe em seu gabinete, não para apaziguar sua mente pelo estudo ou pela contemplação, mas sobretudo para se entregar ao melancólico desfrute de seu mau humor. Mesmo depois que o acesso termina, sintomas negativos podem retornar frequentemente".


Depois de coroado, Jorge teve alguns curtos períodos de doença. Em 1762, teve resfriados estranhos. Três anos depois, em 1765, sofreu de uma doença semelhante. Vinte e três anos depois, teve a mesma doença: um forte resfriado, febre e rouquidão. Nesse intervalo, revelou-se um dos mais conscienciosos monarcas britânicos. Ocorreram 2 grandes guerras: Guerra dos Sete Anos com a França e a Guerra da Independência Americana. Teve problemas em encontrar um primeiro-ministro confiável e competente que seria resolvido só em 1784 com o jovem William Pitt.

O rei teve na rainha Carlota uma esposa afetuosa e solícita, mas seus filhos, especialmente Jorge, príncipe de Gales, haveriam de lhe causar ansiedade em razão de sua extravagância e dissipação.

O dr. Willis submeteu o rei a um regime severo, que envolveu o uso de camisa-de-força e de uma cadeira especial para a contenção do paciente, que o rei chamava de de sua "cadeira da coroação". Ocasionalmente mandava amarrar seu paciente ao leito. A recuperação do rei foi motivo de grandes celebrações em toda a nação em 1789. Os antigos sintomas reapareceram em 1801, e os Willis foram chamados de volta, mas em 1804 já estava melhor. Em 1810 sua filha predileta, Amelie, ficou doente e morreu. Depois de sua acessão ao trono em 25 de outubro de 1810, a doença voltou. Viveu em um outro mundo solitário pelo resto de sua vida. A regência tornou-se permanente. A rainha Carlota, morreu em novembro de 1818. Jorge morreu em 29 de janeiro de 1820.


Descendência:
Jorge III casou em 8 de setembro de 1761 com a princesa alemã Sofia Carlota de Mecklenburg-Strelitz. O casal teve os seguintes filhos:
  1. Jorge IV do Reino Unido, Rei de Inglaterra (12 de agosto de 1762 - 26 de junho de 1830) casou com Carolina de Brunswick-Wolfenbüttel; sucedeu ao pai.
  2. Frederico, Duque de York (16 de agosto de 1763 - 5 de janeiro de1827) casou com Frederica, Princesa da Prússia.
  3. Guilherme IV do Reino Unido (21 de agosto de 1765 - 20 de junho de 1837) casou com Adelaide de Saxe-Meiningen; sucedeu ao seu irmão.
  4. Carlota, Princesa Real (29 de setembro de1766 - 6 de outubro de 1828) casou com Frederico, Rei de Württemberg.
  5. Eduardo Augusto, Duque de Kent e Strathearn (2 de novembro de 1767 - 23 de janeiro de 1820) casou com a Princesa Vitória de Saxe-Coburg-Saalfeld; pai da Rainha Vitória
  6. Augusta Sofia (8 de novembro de 1768 - 22 de setembro de 1840)
  7. Isabel (22 de maio de 1770 - 10 de janeiro de 1840) casou com Frederico, Landgrave de Hesse-Homburg.
  8. Ernesto Augusto I de Hanôver, Rei de Hanôver (5 de junho de 1771 - 18 de novembro de 1851) casou com a Princesa Frederica de Mecklenburg-Strelitz.
  9. Augusto Frederico, Duque de Sussex (27 de janeiro de 1773 - 21 de abril de 1843) casou primeiro com Lady Augusta Murray, de quem teve filhos; após a anulação deste casamento casou com Lady Cecilia Buggins.
  10. Adolfo, 1º Duque de Cambridge (24 de fevereiro de 1774 - 8 de julho de 1850) casou com Augusta de Hesse-Cassel.
  11. Maria (25 de abril de 1776 - 30 de abril de 1857) casou com o Príncipe Guilherme, Duque de Gloucester
  12. Sofia (3 de novembro de 1777 - 27 de maio de 1848) nunca casou; teve um filho ilegítimo do General Sir Thomas Garth.
  13. Otávio (23 de fevereiro de 1779 - 3 de maio de 1783)
  14. Alfredo (22 de setembro de 1780 - 20 de agosto de 1782)
  15. Amélia (7 de agosto de 1783 - 2 de novembro de 1810)
Origem : 'A loucura dos Reis' de Vivian Green

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A loucura dos reis – famílias felizes III




O Prudente, Luís XI nasceu no palácio episcopal de Bourges em 3 de julho de 1423 e morreu em 30 de agosto de 1483. Foi rei da França entre 1461 e 1483. Filho de Carlos VII de França e Maria de Anjou e desde cedo se rebelou contra a autoridade paterna.






___Vida_____________________________________________
Aos 3 anos, foi encerrado no castelo de Loches, onde permaneceu até os 10 anos de idade. Aos 11 anos, seu pai permitiu que ele fosse viver em Amboise com a mãe. Tinha um gosto pronunciado pela fé e pelos estudos, apesar de cair por vezes em conflito com a Igreja. Em 1436, seu pai determinou um casamento com Margarida da Escócia, união estratégica que o desagradou. Sua aversão ao pai cresceu. Aos 17 anos, Luís integrou revolta da nobreza contra o pai mas, derrotados, tiveram que se submeter e Luís foi mandado para o Dauphiné. Luís continuou a conspirar contra seu pai, desposou Carlota, filha do Duque de Savóia, e procurou refúgio junto ao Duque da Borgonha, rival da Coroa francesa. Luís XI estava no castelo de Genappe, propriedade do Duque da Borgonha, quando recebeu a notícia da morte do pai.

Luís pode ter herdado alguns distúrbios nervosos do pai, apesar de sua competência como rei e sucesso com que restaurou a autoridade da coroa.

As exéquias de Carlos VII foram celebradas no dia 8 de agosto de 1461, e Luís XI não compareceu. Coroado rei, dispensou os conselheiros do pai, e colocou sua própria gente.
  • passou a taxar os nobres,
  • aumentou os impostos,
  • dispensou os coletores do Papa, e
  • controlou as questões eclesiásticas.
Luís XI, não era um homem muito inteligente; era astuto, habilidoso e supersticioso, adorava andar por seu reino, e era pouco inclinado a levar uma vida de Corte. Fisicamente, era maldotado, sofrendo de uma doença de pele que o fazia temer ser leproso. A excentricidade de seu caráter, valeu o título de "aranha universal". Sua pouca disposição para se vestir como rei ou desfrutar os luxos da realeza, seus acessos de mal humor sugerem que talvez fosse vítima de uma neurose branda, que pode ter herdado do pai e do avô. Há alguma possibilidade de que os genes de Carlos VI expliquem algumas das idiossincrasias pessoais do filho e do neto.

___Casamento e descendência_______________________
Carlota deu 7 filhos a Luís, mas passava pouco tempo com ele, e permanecia sozinha em Amboise ou Tours. Luís XI teve uma amante: Marguerite de Sassenage, que lhe deu vários filhos. Sua esposa se acomodou dentro dessa situação, preferindo ignorar as infidelidades.

– casou em Tours em 24 de junho de 1436 com Margarida Stuart da Escócia (1418-1444), filha de Jaime I:
  • sem filhos desse casamento

– casou pela segunda vez em Chambery 14 de fevereiro de 1457 com Carlota (1445-1483), filha de Luís, Duque da Savóia e teve:
  1. Joaquim (1459)
  2. Luís (1467)
  3. Carlos VIII (1470-1498 ) – rei em 1483, rei de Nápoles em 1495
  4. Francisco (1472-1473 ), Duque de Berry
  5. Luísa (1460)
  6. Ana de França (1462-1522) – casada em 1474 com o senhor de Beaujeu; depois com Pedro II, duque de Bourbon em 1488, regente na menoridade do irmão Carlos VIII. Os contemporâneos a admiravam e a chamavam Madame la Grande.
  7. Santa Joana de Valois ou Santa Joana de França (1464-1505) – canonizada em 1950, duquesa de Berry em 1498, casou em 1476 com Luís de Orleans, futuro Luís XII, que a repudiou em 1498. Fundadora da Ordem das Anunciadas.

– de Phélisé Regnard, viúva de Jean Pie, teve:
  1. Guyotte, Bâtarde de France, casada com Charles du Sillon

– da Marguerite de Sassenage teve:
  1. Guyette de Valois, morta em 11 de março de 1502, legitimada
  2. Joana de Valois (1447-1519) Senhora Mirabeau – legitimada 25 de fevereiro de 1466, casada em 1466 com Luís Almirante de Bourbon, filho de Carlos I Duque de Bourbon, deste casal descenderá mais tarde Diane de Poitiers
  3. Maria de Valois (1451-1470) – legitimada em 1467, casada em 1467 com Aymar de Poitiers, senhor de Saint-Vallier
  4. Isabel de Valois – casada com Louis de Saint-Priest

Fonte: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green e Wikipédia

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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A loucura dos reis – famílias felizes II

Teria uma herança genética da doença de Carlos VI se revelado em seu filho, Carlos VII, ou em seu neto Luís XI?

Por meio de uma manipulação política astuta e uma onda de patriotismo associada com a estranha e enigmática figura de Joana d'Arc, meio mística, meio patriota, "possivelmente um homem em trajes de mulher", e com a ajuda da deserção do duque de Borgonha da aliança inglesa, o poder inglês na França desmoronou pouco a pouco, permitindo a Carlos VII recobrar sua autoridade e reconstruir sua administração.

Nasceu em Paris 22 fevereiro 1403 e faleceu no castelo de Mehun-sur-Yèvre em 22 julho 1461. Rei da França em 1429 sagrado em Reims, com a ajuda de Joana d'Arc. Filho de Carlos VI e Isabel da Baviera, seus irmãos mais velhos faleceram antes do pai, deixando-lhe o título de delfim (herdeiro do trono francês). Casado com Maria de Anjou, filha de Luís II de Anjou, rei de Nápoles.

Embora Carlos tenha sido um rei bem sucedido sob muitos aspectos, havia nas complexidades de sua personalidade alguns indícios de que talvez tivesse herdado algo da fragilidade nervosa do pai. Seu biógrafo do século XIX, Fresne de Beaucourt, disse que ele era "muitos homens num só". "Os olhos pequenos e empapuçados de roedor, o nariz comprido e bulboso, os lábios grossos e sensuais e o colorido doentio, não permitem que o retratado seja incluído entre os mais belos tipos de fisionomia real". (assim descreve Malcom Vale, seu retrato no Louvre).

Seu caráter parece ter sido reflexo de sua aparência:
  • homem pouco atraente, incoerente, volúvel, irresponsável, desconfiado, ressentido e sensual.

Carlos VII temia tentativas de assassinato, por ter crescido em uma corte traiçoeira e violenta. Jamais esqueceu do assassinato do duque de Borgonha na ponte de Montereau. No final de 1450, estava doente, sintomas secundários de uma doença venérea, provavelmente sífilis. Sua amante famosa foi Agnes Sorel, morta em 1450, e outra amante, Antoinette de Maignelay (1430- 1461) dame de Villequier.


Carlos havia sido deserdado pelo pai Carlos VI, em 1421. Sua relações com seu filho e herdeiro Luís XI, foram extremamente tensas. Vencedor final da Guerra dos Cem Anos, Carlos VII morre 8 anos mais tarde, em 22 de julho de 1461, aos 58 anos, amargurado por enfrentar a rebeldia do próprio filho Luís. Impaciente por governar, arriscando a unidade tão caramente conquistada, o filho levanta os vassalos contra o rei e se alia ao rival, de novo um duque da Borgonha - desta vez Filipe o Bom.


Descendência:

casou em 18 de dezembro de 1422 com Maria de Anjou (1404-1463 na abadia de Chateliers no Poitou), filha de Luís II de Anjou, rei de Nápoles, e de Iolanda de Aragão.
  1. Luís XI – nasceu em Bourges 1423 morreu em 1483, rei em 1461.
  2. João – nasceu em 1426
  3. Jaime – nasceu em 1426
  4. Carlos – nasceu em 1446-1472 morreu evenenado, Duque de Berry 1461; da Normandia 1465; da Aquitânia 1469. Sem descendência.
  5. Radegonde – nasceu em 1425 e morreu em 1444
  6. Catarina – nasceu em 1428 morreu em 1446. Casada em St. Omer em 1440 e com Carlos da Borgonha (morto em 1477), Duque da Borgonha.
  7. Iolanda– nasceu em 1434 morreu em 1478. Casada em 1452 com Amadeu IX (morto em 1488), Duque de Savóia.
  8. Joana – nasceu em 1435 morreu em 1482. Casada em 1447 com João II (morto em 1488) Duque de Bourbon.
  9. Filipe – nasceu em 1436
  10. Margarida – nasceu em 1437 morreu em 1438
  11. Joana – nasceu em 1438 morreu em 1446
  12. Maria – nasceu em 1438 morreu em 1439
  13. Maria – nasceu em 1441
  14. Madalena – nasceu em 1443 morreu em 1495. Casada em St. Jean d’Angely em 1461 com Gastão de Foix (morto em 1470), conde de Foix, príncipe de Viena.

de Agnes Sorel:
  1. Carlota de Valois – nasceu em 1434 morreu em 31 de maio de 1477, assassinada pelo marido.
  2. Maria Margarida de Valois – nasceu em 1443 morreu em 1473, Senhora de Royan. Casada em Vendôme em 1458 com Olivier de Coëtivy (morto em 1480), Conde de Taillebourg, senescal da Aquitânia.
  3. Joana de Valois – nasceu em 1448 morreu em 1467. Intitulada também bâtarde de France. Casou em 1461 com Antoine de Bueil (morto em 1506), Conde de Sancerre.
  4. uma filha – nasceu em 1449 morreu em fevereiro de 1450

Origem: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green e Wikipédia

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

A loucura dos reis – famílias felizes I



Os efeitos da doença de Carlos VI foram generalizados e prolongados, transformou sua personalidade. Teve os mais deploráveis efeitos sobre a família real, já dividida pelas ambições egoístas dos seus principais membros e a profunda inveja que os separava. As consequências das recaídas de Carlos VI provaram-se desastrosas para seu país.


Carlos subiu ao trono em 1380, depois de uma guerra com a Inglaterra. A zona rural e as cidades francesas haviam sido saqueadas e o tesouro real estava empobrecido. Filho de Carlos V "o sábio" e de Joana de Bourbon. Teve a desvantagem de suceder ao pai ainda menino de 12 anos, sem nenhuma experiência , impressionável e maleável, estava fadado a ser instrumento de sua família. Delegou os poderes aos seus tios:
  1. Luís, duque de Anjou – tentava apropriar-se do reino de Nápoles
  2. Filipe, duque de Borgonha – estava de olho no condado de Flandres
  3. João, duque de Berry – pilhava o Languedoc
Embora Carlos tenha atingido a maioridade em 1381, eram seus tios que comandavam o governo.

Carlos era um rapaz amante dos prazeres, caçador apaixonado. Era benevolente, generoso e afável, apelidado de le bien aimé 'o Bem Amado', um título irônico em vista de sua vida futura, mas que ele apreciaria até sua morte.

Casamento
Casou em 17 de julho de 1385 com Isabel, uma princesa da família real Wittlesbach, filha de Estevão III, duque de Ingolsdt na Baviera Superior, um dos mais poderosos Estados alemães, o avô da noiva era o duque de Milão – Bernardo Visconti.

Carlos era muito devotado a esposa, com quem teve 12 filhos em 21 anos, o último um menino que morreu imediatamente após nascer em 1407. Mas em determinado momento, houve uma mudança, sua aversão a Isabel tornou-se tão forte, que a rainha se retirou dos aposentos reais, dando lugar a uma jovem – Odette de Champdivers, que se tornou conhecida como a "pequena rainha" e teve uma filha do rei: Marguerite de Valois, que mais tarde se casou com Jean de Harpedene e foi legitimada por Carlos VII, em 1427.

O rompimento do casal no entanto, ocorreu num dos momentos em que o rei estava mais são: em 1417, ordenou à mulher que dispersasse sua corte e separou-a de sua filha Catarina e expulsou-a.

Reinado
Em 1388 houve uma mudança no governo, devido a política seguida de seus tios que desgostou o conselho real. O grupo a assumir era composto por homens que desejavam restabelecer a administração de Carlos V e expurgar a corrupção que crescera sob o governo dos tios. De fato o governo só passou de um grupo para outro, composto pela rainha Isabel, uma mulher cobiçosa e egoísta, decidida a enriquecer a si própria e à sua família, e pelo irmão mais moço do rei, Luís, duque de Touraine (mais tarde de Orléans), que segundo rumores se tornou amante da rainha.

Carlos teve uma doença em abril de 1392, que segundo um cronista foi uma "doença estranha e até então inaudita", durante a qual o rei teve febre alta e mais tarde perdeu o cabelo e as unhas. Como muitos outros, inclusive o duque de Berry, ficaram doente ao mesmo tempo, provavelmente foi febre tifóide ou encefalite.

Devido a um ataque gratuito a um fiel servidor real, Carlos tomou a decisão de se vingar e formou uma expedição, onde ficou evidente que não estava bem de saúde. Num determinado momento o rei num acesso, puxou sua espada e aos gritos de "Avante contra os traidores! Eles querem me entregar ao inimigo!" investiu contra todos que estavam ao seu alcance, matando 4 ou 5 de seus cavaleiros. O rei foi agarrado, ficou prostrado e sem fala, revirando os olhos, 2 dias em coma. Porém sob os cuidados de seu médico, foi recuperando a saúde. O fato de que ele tinha uma predisposição para perturbação mental pode ser inferido da doença de sua mãe e da natureza do mal que acometera pouco antes do início da expedição. Esse talvez tenha sido o início de uma esquizofrenia que retornaria em maior ou menor medida durante o resto de sua vida.

O colapso do rei teve efeitos imediatos, seus tios logo se livraram dos conselheiros e assumiram o poder novamente, junto com Luís, irmão do rei. Teve mais uma recaída em julho de 1393, outra em 1395. Com o passar do tempo os intervalos de aparente sanidade entre períodos de loucura foram ficando mais curtos. Com a morte de seu médico, os médicos reais ficaram desorientados, sem saber como lidar com aquele difícil paciente. Assim apelos foram feitos para especialistas menos ortodoxos e muitos feiticeiros foram chamados.

A França sofreu as consequências da prolongada instabilidade mental e do governo fraco de Carlos na forma de guerra civil, conselhos divididos e invasão estrangeira. No seio da família real criavam-se rivais ao poder político, especialmente entre o irmão do rei, Luís de Orléans e seu tio Filipe de Borgonha.

Sucessão
Enquanto esses conflitos aconteciam, um novo perigo para a França aparecia na forma de um ressurgimento das reivindicações inglesas ao trono francês. O jovem e ambicioso rei da Inglaterra, Henrique V. A vitória inglesa deixou os franceses sem liderança e divididos. O herdeiro do rei francês, o duque de Guyenne, morreu de repente e logo depois foi a vez de seu irmão João; Carlos de 14 anos ficou como delfim. Por algum tempo os príncipes franceses resolveram se unir, mas o duque de Borgonha foi assassinado a caminho do encontro com o delfim. Carlos VI, mais uma vez deslocou o delfim, dando ao novo duque de Borgonha, Filipe (casado com sua filha Michele) o direito e o poder de negociar trégua com Henrique V. Em 21 de maio de 1420, negociou-se um tratado que o rei Henrique atuaria como regente do rei francês enquanto ele vivesse e o sucederia quando ele morresse. O tratado foi selado com o casamento de Henrique com Catarina, filha de Carlos, o filho desse casamento seria rei da Inglaterra e da França, deserdando assim seu filho Carlos VII. Henrique morreu em 31 de agosto de 1422, deixando seu filho Henrique VI como sucessor. Carlos VI faleceu em 21 de outubro de 1422. Em sua exéquias em St. Denis, o arauto bradou:
" Deus conceda longa vida a Henrique, pela graça de Deus, rei da França e da Inglaterra, nosso soberano senhor".

Enquanto a França recuperava sua força sob os dois sucessores de Carlos, seu filho Carlos VII e seu neto Luís XI, a Inglaterra sob Henrique VI, sucumbia às guerras entre facções que o rei inglês foi incapaz de controlar e para cuja continuação seu próprio colapso mental contribuiu.

Descendência
• com Isabel da Baviera (1371-1435), nasceram:
  1. Carlos, Delfim do Viennois (nascido no castelo de Vincennes, 1386)
  2. Joana (1388 - 1390)
  3. Isabel de Valois, nascida no Louvre em 1389 e morta em Blois em 1409, casada em 1396 com Ricardo II e depois de viúva casada em 1406 com Carlos, Duque de Orléans morto em 1465.
  4. Joana de Valois, nascida em Melun em 1391 e morta em Vannes em 1433, casada em 1397 com João VI, Duque da Bretanha, morto em 1442.
  5. Carlos, Delfim do Viennois (1392 - 1401)
  6. Maria de Valois (1393 - 1438), abadessa de Poissy, onde morreu.
  7. Micaela de Valois, nascida em Paris em 1395 e morta em Gand em 1422, casada em 1409 com Filipe III, Duque da Borgonha (morto em 1467).
  8. Luís, Duque de Guyenne ou Aquitânia e Delfim (1396 ou 1397 - 1415), casado com Margarida da Borgonha (1393-1441) filha do Duque da Borgonha, João Sem Medo.
  9. João, nasceu em 1401, Duque de Touraine e Delfim de França, nascido em Paris em (1398 e envenenado em Compiègne em 1417); casado com Jacqueline de Hainaut (assassinada em 1436 no castelo de Teilingen) condessa de Holanda e do Hainaut, filha de Guilherme II, duque da Baviera Inferior, conde de Holanda.
  10. Catarina de Valois, nascida em Paris em 1401 e morta em Londres em 1437, casada em Troyes em 1420 por força do Tratado, com Henrique V de Inglaterra; enviuvando em 1422 casou-se por volta de 1429 com Owen Tudor (morto em 1461). Um de seus netos será o rei Henrique VII Tudor. Por este casamento, Henrique V pode ser proclamado em 1422 Rei de França.
  11. Carlos VII, Rei de França (1403 - 1461), casado com Marie de Anjou
  12. Filipe nascido e morto em Paris em (1407)

• com Odette de Champdivers nasceu:
  1. Margarida de Valois, nascida em 1407 e morta em 1458, legitimada em 1427. Em 1428 foi casada com João III de Harpedanne, senhor de Belleville de Montaigu, com posteridade extinta em 1587.


Origem: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green

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sábado, 27 de junho de 2009

A loucura dos reis – O rei cisne


Luís II de Wittelsbach – Nymphenburg, 1845 - Berg, 1886; o último monarca europeu cuja loucura causaria um impacto na herança cultural e política do mundo moderno. Uma cruz singelamente fincada nas águas rasas do lago Starnberg, onde ele se afogou ou foi afogado em junho de 1886, celebra esse extravagante monarca. O seu comportamento excêntrico tornou-se uma lenda em seu próprio tempo.




Família e infância
A família Wilttelsbach uma das mais antigas famílias reinantes da Europa, governava desde a Idade Média o grande reino da Baviera, no sul da Alemanha; em 1806, seus príncipes, que muito tempo foram intitulados eleitores, tornaram-se reis. Em 1871 a Baviera torna-se, com relutância, parte do império alemão, mas seus soberanos conservaram o título de reis até o fim da Primeira Guerra Mundial, que derrubou todos os príncipes alemães de seus tronos. Muitos bávaros ainda cultuam a memória do passado. O pai de Luís tornou-se rei da Baviera em 1848, após a abdicação de Luís I.

Não havia nada na parentela de Luís II, ou em sua ancestralidade para sugerir o que o futuro lhe reservava, mas desde menino ele foi muito sensível. Raramente era visto pelos pais, e foi criado por amas e governantas. Parece ter sido em geral uma criança solitária, que vivia muito por conta própria, entregue à sua imaginação, e a dele provou-se intensamente vívida. Suas fantasias eram especialmente atraídas pela imagem do cisne, um emblema que haveria de obsedá-lo ao longo de toda a sua vida. O castelo real em Hohenschawangau, "a casa elevada do cisne" situado nos Alpes bávaros, muito acima dos lagos Schwansee e Alpsee, que cintilam entre as montanhas havia sido reconstruído por Maximiliano, pai de Luís, e foi dedicado à lenda de Lohengrin. Os profusos afrescos que adornavam suas paredes representavam um cisne puxando um barco em que viajava Lohengrin, o cavaleiro do Santo Graal com quem Luís se identificaria.

Ainda adolescente desenvolveu intensa admiração pelo compositor Richard Wagner, uma paixão que dominaria sua vida. A música do compositor haveria de gerar uma série de fantasia que Luís procurou converter em realidade, às vezes com resultados trágicos. Desde menino, Luís teve uma visão romântica de si mesmo, como um rei que conduziria o povo alemão por caminhos ideais, e por acaso as composições de Wagner simplesmente vieram ao encontro dessa visão num momento crítico e com enorme impacto. O próprio Wagner apelidou o rei de Parsifal "meu filho no Espírito Santo", simples e sábio, chamado pelo destino para suceder à monarquia do Graal.

Depois da súbita morte de seu pai em 1864, o jovem e imaturo príncipe teve a oportunidade de converter sua visão em realidade. Luís era muito alto e irradiava enorme encanto. Tinha abundantes cabelos crespos, regularmente grandes, que usava longos, talvez para cobrir suas orelhas muito grandes, traços de um bigode e olhos extraordinariamente expressivos.
"Ele era mentalmente bem-dotado no mais alto grau, mas os conteúdos de sua mente estavam armazenados de maneira totalmente desorganizada. Fiquei impressionado pela maneira como volta e meia, exatamente quando sua expressão e conduta geral pareciam mostrar contentamento, ele se retesava de repente e – olhando à sua volta com uma expressão séria, até severa – revelava algo de sombrio em si mesmo que contrastava por completo com o encanto juvenil de um instante antes. Eu pensava comigo mesmo: 'Se duas naturezas diferentes estão germinando neste rapaz', como me pareceu desde minhas primeiras conversas com ele, 'queira Deus que a boa seja vitoriosa'. " (Ministro da Justiça Eduard von Bomhard de Luis II)
Casamento
O casamento de Luís logo se tornou uma matéria de urgência. O rei apreciava a companhia feminina, principalmente e especialmente a imperatriz da Áustria Elisabete (Sissi), que a via como a reencarnação de sua heroína Maria Antonieta. Luís anunciou seu noivado com Sophie, irmã da imperatriz Elisabete.

Quanto mais se aproximava o casamento mais temia o passo planejado. Escreveu para noiva, dizendo que o amor que sentia por ela não era o amor necessário para uma união matrimonial. A família da noiva ficou escandalizada. E Luís apenas anotou em seu diário: "Livrei-me de Sophie... Agora volto a viver após o torturante pesadelo." A verdadeira natureza de Luís era homossexual. Seus amigos íntimos eram rapazes e o principal deles foi por muitos anos o príncipe Paul von Thurn und Taxis.

Reinado
Apesar dos eventos dramáticos que estavam rondando a Alemanha, Luís era indiferente nessa época ao futuro da Alemanha, basicamente indiferente à política, embora algumas circunstâncias exigissem sua participação.

Na Guerra de Sete Semanas entre a Prússia e a Áustria, os bávaros lutaram ao lado dos austríacos e sofreram revés nas mãos dos prussianos. Luís obcecado por idéias de cavalaria medieval, pela guerra moderna, teve tão pouco entusiasmo, que chegou a pensar em abdicar em favor do irmão Otto. Quatro anos depois, a Baviera estava novamente em guerra, dessa vez os prussianos contra os franceses. Com relutância, como se ao preço de um subsídio, o rei aceitou o império que resultou na proclamação do rei prussiano Guilherme I como imperador alemão em Versalhes.

Assim Luís, passou a viver cada vez mais num mundo criado por ele mesmo, empenhado em patrocinar Wagner e o teatro e em construir palácios decorativos que, embora não tenham todos sido concluídos, permaneceram como seu legado mais substancial para a posteridade. E na raiz de sua vida fantasiosa, estavam as lendas medievais encarnadas nas óperas de Wagner.

Luís era cruelmente intolerante com quem lhe parecia feio, e só tinha olhos para rapazes e moças bonitos. Mesmo as relações de Wagner com o rei não foram livres de atrito, por mais forte que fosse o vínculo entre eles, porque o compositor era capaz de ser trapaceiro e desonesto, ao passo que Luís era exigente e temperamental.

Havia na Baviera uma onda crescente de críticas as extravagâncias de Wagner, uma irritação agravada pelas intervenções pouco sutis do compositor na política bávara. Entristecido, Luís ordenou a Wagner que partisse de Munique para a Suíça. Em novembro de 1880 quando os bávaros celebraram os setecentos anos do governo Wittelsbach, Wagner foi a Munique para assistir a uma apresentação privada de Lohengrin. Foi a última vez que o rei e o compositor se viram, pois Luís não foi a estréia de Parzival em 1882, por estar doente; só assistiu à ópera em 1884, quando o próprio Wagner já estava morto.

Os Castelos
Depois de construir o castelo Neuschwanstein , Luís planejou construir um outro palácio real, diferente em função da aparência, o Linderhof, este deveria ser em homenagem a seu grande herói Luís XIV da França, a quem ele procurava imitar como patrono das artes; às vezes, copiava também suas roupas e maneira de andar, conversava em francês com convidados imaginários. Linderhof foi um palácio pequeno, revestido de pedra branca, estilo barroco e cheio de fantasias decorativas, colorido e encantador. O mais suntuoso de todos os castelos foi Herrenchiemsee, situado na ilha de Herren, foi inspirado pelos palácio de Luís XIV, construção horizontal de grande beleza moldada em Versalhes. Sua galeria de espelhos chegava a suplantar a original, com mais 27 m de comprimento.

Reformou e construiu outros edifícios, todos exóticos e simbólicos. Falkenstein teria sido o mais espetacular, como Neuschwanstein, uma fábula gótica, uma majestosa estrutura de pináculos e torres, à maneira da Disneylândia, situada no topo de uma montanha a sobranceira ao mundo, um tributo ao reino da fantasia que o rei passou a viver cada vez mais.

Fim do reinado
Cada vez mais ele foi se furtando ao olhar público e se restringindo a um mundo privado e cada vez mais se tornava um animal noturno. Seu comportamento excêntrico estava chegando ao limiar da insanidade. Parecia haver dois Luises:
  1. encantador e sociável, ativo e até politicamente sensato, preocupado com o bem estar de seu povo;
  2. sonhador, rabugento, desatencioso e retraído, cada vez mais mergulhado num mundo de fantasia – e esse dominava cada vez mais.
Seu herdeiro, o irmão Otto, estava louco havia vários anos, era preciso de uma regência, assim foi escolhido o tio Leopoldo de 65 anos, que deixou-se convencer, com alguma relutância a assumir esse papel.

Morte
Em 12 de junho de 1886 às 18.45h, o rei e o médico partiram para uma caminhada às margens do lago. Quando às 20hs não havia retornado um grupo de busca saiu a procura e por voltas 22h, foram encontrados nas águas rasas da beira do lago, o paletó e o sobretudo do rei; seu guarda-chuva estava próximo. O corpo do rei foi encontrado na água, de bruços, seu relógio estava parado às 18.45h. O médico estava a alguns passos de distância, flutuando na água barrenta da borda do lago.

Assim o corpo do rei foi sepultado em 19 de junho de 1886, na cripta de St. Michael; mais tarde, um vaso contendo seu coração foi depositado junto com as outras relíquias de sua antiga família na Capela Votiva de Alt-Otting.

Luís II, não seria o último rei da longa linhagem Wittelsbach, pois ironicamente, foi sucedido por Otto, seu irmão louco havia tanto tempo, que continuou sendo o soberano, pelo menos nominalmente até 1913, quando foi destronado pelo primo Luís III, o último monarca bávaro. Sob muitos aspectos, Luís II foi sem dúvida o mais trágico e talvez o mais criativo membro de sua antiga família.



Castelos da Baviera

Hohenschawangau

Herrenchiemsee

Linderhof

Neuschwanstein

ruínas de Falkenstein

residência de Monique




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quarta-feira, 10 de junho de 2009

A loucura dos reis – Pantomima dinamarquesa




Cristiano VII – Copenhague, 29 de janeiro de 1749 - Rendsburg, 13 de março de 1808, foi rei da Dinamarca e da Noruega de 1766 a 1808. Era o segundo filho de Frederico V da Dinamarca e da Noruega e de sua primeira esposa Luísa da Grã-Bretanha. Casou-se em 1 de outubro de 1765 com a prima Caroline Matilde da Grã-Bretanha, irmã do rei da Grã-Bretanha Jorge III. Doente mental, assumiram o governo e o exército o seu médico Struensee e Peter Bernstorff, que realizaram diversas reformas liberais.






_____________Infância____________
A doença o perseguiu durante a maior parte de seu reinado, embora tivesse seus períodos lúcidos. As casas reais dinamarquesa e hanoveriana (Grã-Bretanha) eram intimamente relacionadas, a mãe de Cristiano era filha de Jorge II. Quando Cristiano visitou a Inglaterra, em 1768, as pessoas comentavam sua grande semelhança com os membros da família real britânica. Sua mãe morreu quando ele tinha 2 anos e sua relação com a madrasta nunca foi estreita. Tinha um meio irmão Frederico, um príncipe fraco e deformado. Cristiano teve uma infância muito difícil, carente de afeto, deixado com preceptores, como Ditlev Reventlow – um bruto que não exitava em aterrorizá-lo, surrando-o tanto que as vezes o menino era encontrado espumando no chão. A situação melhoraria com a chegada em 1760 de um tutor suiço de 28 anos, Elie-Salomon François Reverdil, que tentou construir seu pupilo em filosofia e nos princípios da benevolência. Cristiano era bom em línguas, falava dinamarquês, francês e alemão, mas um estudante difícil e atrasado. Apresentava um profundo sentimento de insegurança e inadequação. O medo sempre foi uma característica de sua personalidade.

Fracote, baixo e de constituição delgada, tentava compensar suas deficiências criando uma imagem de valentão. Seu físico franzino talvez tenha sido um ingrediente importante no desenvolvimento de sua personalidade perturbada. Loiro de olhos azuis, de aparência agradável.

_____________Casamento__________
Quando Cristiano estava com 16 anos iniciaram as negociações para seu casamento com uma prima de 13 anos – Carolina Matilda –  irmã de Jorge III , era atraente, ingênua, loira de olhos azuis. Casaram em outubro de 1765 e o primeiro filho, o herdeiro Frederico VI nasceu em 28 de janeiro de 1768.

_____________Reinado____________
A monarquia dinamarquesa era uma autocracia pela lex regia de 1665. Lançado pela morte do pai a uma posição de poder absoluto, Cristiano, lembrando as humilhações a que fora sujeito criança, decidiu ser "senhor absoluto de seus negócios". Conservou por algum tempo os serviços do competente conde Bernstorff e demitiu os demais ministros de seu pai. Confiou também seu reino a cargo de seu médico Struensee – um homem cheio de contradições, politicamente ambicioso e de racionalismo iluminista que conseguiu muitos inimigos, não apenas entre os cortesãos, mas especialmente entre os que invejavam o poder que detinha e se ressentiam das reformas que fizera no governo da Dinamarca. A rainha estava completamente apaixonada pelo médico. O rumor de que Struensee pretendia conseguir a abdicação e até a morte do rei, para poder se casar com a rainha e assumir o poder, deu início a já esperada revolução dinamarquesa. Em janeiro de 1772, os principais conspiradores se reuniram no apartamento da rainha viúva Juliana e seu filho Frederico, e rumaram para  conseguir a assinatura do rei para as ordens mandando prender Struensee e sua própria mulher.

A rainha depois de ser declarada divorciada do rei, foi setenciada à prisão perpétua no castelo Aalborg. Devido aos apelos de Jorge III ela foi tranferida e se refugiou em Celle, Hanover e faleceu em 11 de maio de 1775.

Depois da revolução, Cristiano exerceu apenas um poder nominal, viveu em reclusão, fazendo aparições simbólicas. Cedera às pressões da rainha viúva e seu filho, mas se ressentia do que elas haviam feito.

Em 1784 seu filho o príncipe herdeiro Frederico, desgostoso com o governo reacionário e impopular da rainha viúva e de seu filho, convenceu o pai a comparecer ao conselho de Estado para assinar um documento que demitia o ministério.

Cristiano tinha mais 20 anos de vida, mas viveu recluso e seus aparecimentos públicos foram raros. A Dinamarca, apesar da loucura do rei e com Andreas Bernstorff como seu principal ministro, gozou de um longo período de governo liberal, com certo aumento da prosperidade e da paz, até a declaração das Guerras Napoleônicas.

A sombria existência de Cristiano terminou em março de 1808, quando estava em Holsten, extremamente apavorado com o avanço das tropas auxiliares espanholas. Embora o príncipe herdeiro Frederico VI, exercesse o poder real e o tenha feito durante um quarto do século, nunca foi oficialmente o regente.

_____________Descendência________
  1. Frederico VI – 28 janeiro 1768-3 dezembro 1839. Rei da Dinamarca e da Noruega.
  2. Luisa Auguste – 7 junho 1771-13 janeiro 1843. Duquesa de Schleswig-Holstein


Origem: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green   e   Wikipédia

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domingo, 7 de junho de 2009

A loucura dos reis – O rei enfeitiçado e sua herança



Os males do corpo e da mente são tão sutilmente entrelaçados que parecem indistinguíveis, e com frequência reagem uns sobre os outros. A doença física pode ser um agente que precipita a perturbação do equilíbrio da mente. Mas em outros casos, a doença física, embora talvez não gere nenhum prejuízo mental severo, afeta, ainda que apenas periféricamente, o julgamento. A inter-relação entre a fraqueza física e fragilidade mental foi particularmente bem exemplificada pelo caso do rei espanhol do século XVII, Carlos II, cuja vida foi colecionada desde o nascimento por problemas crônicos de saúde.






Carlos não foi insano num sentido convencional, mas sua debilidade física teve por complemento a fragilidade mental, ainda que, de modo muito intermitente, o monarca tenha revelado centelhas de entendimento político e até de sabedoria. Os males gêmeos do corpo e da mente de Carlos fizeram de seu governo, um desastre para seu povo.


Endogamia *
A personalidade de Carlos, tão fortemente moldada por fatores genéticos, foi uma prova da importância da hereditariedade na política européia. A endogamia nas famílias reais desempenhou um papel significativo na configuração do destino da Europa. Claramente, algumas doenças físicas podem ser transmitidas de uma geração para outra. No século XVI e XVII a endogamia real tornou-se um costume preeminente dos Habsburgos espanhóis e austríacos. "Tu, felix Austria nube; alii gerant bella" – "Tu, feliz Áustria, te casa; outros engendram guerras". É bem verdade que os Habsburgos não cessaram de engendrar guerras, mas se casaram entre si com entusiasmo, em detrenimento de seus descendentes:
  • primos de 1º grau casavam entre si
  • tios casavam com sobrinhas
O último casamento de Felipe II, foi com Ana, filha de seu primo Maximiliano II com sua irmã Maria. Seu filho Felipe III casou com sua prima Habsburgo; e seu filho Felipe IV casou com sua sobrinha e prima Ana – pais de Carlos II o último Habsburgo da Espanha, em cuja personalidade as deficiências congênitas da endogamia, físicas e mentais, se concentrariam de maneira intensa e desastrosa.

Filiação
O pai de Carlos II, Felipe IV, teve vários filhos com suas duas esposas – desses filhos:
  • dois foram abortados
  • três só viveram para receber o batismo
  • seis resistiram entre 2 semanas e 4 anos
Teve muitos bastardos, que foram relativamente saudáveis. O mais conhecido deles foi D. Juan.

Felipe IV foi casado com a princesa Isabel da França em primeiro casamento, depois de sua morte, casou em 1649, com sua sobrinha de 15 anos, 30 anos a menos que o marido. Em 1661 nasce o futuro Carlos II. Felipe IV morreu em 17 de setembro de 1665, quando Carlos assume o reino com 4 anos. Alguns tiveram a impressão que não era só o rei que morria, mas que o próprio império espanhol estava perecendo.

Reinado
No reinado de Carlos II, houve alguns sinais superficiais de recuperação econômica, na forma de aumento da produção agrícola e de uma expansão comercial. Mas havia o caos monetário, o desenvolvimento industrial era desprezível, grande comércio ultramarino estava sob o controle de negociantes estrangeiros. O prestígio internacional da Espanha declinara, pois ela fora obrigada a reconhecer a independência dos Países Baixos, perdera Portugal e estava eclipsada pela poderosa França de Luís XIV. Felipe deixou em testamento para assegurar o futuro governo de seu país instituindo uma junta para aconselhar Mariana, a rainha-mãe, que deveria ser a regente e a chefe do poder executivo. Mariana carecia de experiência e capacidade para governar, por mais dedicada que fosse ao seu filho, não tinha nenhuma compreensão real dos profundos e difíceis problemas que afligiam seu país de adoção. Depositou sua confiança, em seu confessor, um astuto jesuíta austríaco, padre Everardo Nithard. Mas como o testamento de Felipe IV proibia que estrangeiros participassem do conselho de Estado, Mariana arranjou para que Nithard fosse naturalizado e nomeado inquisidor-geral. Desde o início Mariana sofreu, pois teve que enfrentar o filho bastardo de Felipe IV, o meio-irmão do rei, D. Juan – ambicioso, hábil e atraente, até conseguiu demitir Nithard. Foi nessa atmosfera, numa corte intolerante, governada por uma rígida etiqueta, muita intriga, desconfiança e trapaça, que o jovem rei Carlos II foi criado.




Carlos foi uma criança doente. Sua criação nada fez para ajudar a resolver os problemas temperamentais e físicos que herdara, e eram tão graves que dificilmente poderia ter melhorado. Era raquítico e incapaz de andar adequadamente porque suas pernas não o suportavam. Aos 9 anos ainda não sabia ler e escrever e seus conhecimento gerais permaneceram pequenos ao longo de sua vida. A caça foi uma de suas recreações principais. Apreciava a arte delicada da música, que aplacava momentaneamente os traumas que já o afligiam.





"Ele é mais para baixo, frágil, não malformado; seu rosto no conjunto é feio; tem um pescoço comprido, face e queixo largos, com o lábio inferior típico dos Habsburgos, olhos não muito grandes de um azul-turquesa e uma compleição fina e delicada. Tem um olhar melancólico e levemente surpreso. O cabelo longo e claro, é penteado para trás de modo a deixar as orelhas à mostra. Não consegue se manter ereto quando caminha, a menos que se apóie contra uma parede, uma mesa ou uma outra pessoa. É fraco de corpo e de mente. De vez em quando, dá sinais de inteligência, memória e certa vivacidade, mas não presentemente; em geral, mostra-se lento e indiferente, letárgico e indolente, e parece estupidificado. Pode-se fazer com ele tudo quanto se queira, porque é desprovido de vontade própria." (núncio papal em 1686)

"Dos cinco reis Habsburgos, Carlos V inspira entusiasmo; Filipe II, respeito; Filipe III, indiferença; Filipe IV, compreensão, e Carlos II, piedade." (Marañon)

No entanto em 6 de novembro de 1675, quando atingiu a maioridade, Carlos II mostrou por um breve tempo, um lampejo de energia, até de vontade própria, o que indique que, com uma educação melhor, poderia ter mostrado bom senso. Escreveu uma carta ao seu meio-irmão D. Juan pedindo para que fosse para Madri ajudá-lo a governar. "Assumirei o governo de meus reinos. Preciso de sua pessoa ao meu lado para me ajudar, e livrar-me da rainha minha mãe. Esteja em minha câmara na quarta feira, dia 6." escreveu o rei Carlos. Mas os esforços do rei para sair debaixo das asas da mãe haviam fracassado, foi obrigado a assinar o decreto que prolongava os poderes da rainha mãe e da junta de governo, como primeiro ministro Dom Velenzuela, que era impopular e foi detido e banido por D. Juan, o coringa do reinado. O retorno de D. Juan foi saudado pelo rei e pela maioria dos grandes. A rainha-mãe recebeu ordem de deixar Madri e instalar-se em Alcazar, em Toledo, enquanto D. Juan empreendia a difícil tarefa de levar o meio-irmão a se desincumbir mais seriamente das responsabilidades de um rei.

D. Juan era bem intencionado, consciencioso e não desprovido de habilidade. Reanimou o governo. Esforçava-se por implantar reformas, mas o tempo não estava a seu favor e manter o rei sob constante vigilância, para que não voltasse a influência da mãe. Mas D. Juan adoeceu e morreu em dois meses, aos 50 anos, em 17 setembro de 1679. Quatro dias após a sua morte, o rei uniu-se com a mãe em Toledo e o governo caiu na incompetência desinformada de costume.

Casamento
Deveria ser uma Habsburgo, como desejava sua mãe, mas como a candidata tinha apenas 5 anos de idade, a princesa francesa Maria Luísa, filha do duque Orleans e sobrinha de Luís XIV, foi mais aceitável, uma alegre mocinha de 17 anos, que não conseguiu dar um herdeiro para a Espanha, faleceu em 12 de fevereiro 1689, de uma queda de cavalo.

O segundo casamento de Carlos foi com a irmã da esposa do imperador Leopoldo I, irmão de sua mãe; Maria Ana Neuburg – que logo se revelaria disposta a saquear seu novo país. Era uma mulher resoluta, decidida a influenciar o governo da Espanha e defender o interesse dos Habsburgos austríacos. Ela não se dava bem com a sogra. Mariana morreu em 16 de maio de 1696 e deixou Carlos ainda mais a mercê dos interesses conflitantes de sua corte.

Morte
O rei estava nos últimos estágios de sua doença. Recebeu a extrema unção em 28 de fevereiro de 1700, e cinco dias depois ditou seu testamento, legando seu império inteiro "sem permitir o menor desmembramento da monarquia fundada com tal glória por meus ancestrais" para o neto de sua meia-irmã Maria Teresa casada com Luís XIV rei da França – Filipe, duque de Anjou. Foi talvez o mais decisivo e certamente o mais importante ato de sua vida. Carlos morreu em 1º de novembro de 1700. Semanas depois, Filipe de Anjou foi proclamado rei da Espanha como Filipe V. E todos os tratados de partilha do reino espanhol que até então estavam sendo feitos, foram rasgados e a Europa mergulhou em 13 anos de conflitos sangrentos e onerosos antes que seu título fosse plenamente autenticado.


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* endogamia
en.do.ga.mi.a
sf (endo+gamo2+ia1)
1 Sociol Matrimônio exclusivo entre os membros de um grupo específico de uma tribo ou povo (casta, nobreza ou outra camada), exigido por lei ou costume. 2 Biol Reprodução sexual entre parentes próximos, especialmente polinização de uma flor pelo pólen de outra da mesma planta. 3 Biol Fecundação pela união de duas células separadas que têm a mesma ascendência cromatínica; pedogamia. Antôn: exogamia.
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Origem: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green e Dicionário Michaelis

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Benção


"Que o caminho seja brando a teus pés, O vento sopre leve em teus ombros.Que o sol brilhe cálido sobre tua face, As chuvas caiam serenas em teus campos. E até que eu de novo te veja.... Que Deus te guarde na palma de Sua mão."
(Uma antiga bênção Irlandesa)
 
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