domingo, 19 de abril de 2009

A loucura dos reis – A saga sueca

Embora a loucura de Joana de Castela e a de Dom Carlos possam sem dúvida ter constituído uma ameaça para a estabilidade de suas nações, nenhum dos dois possui autoridade direta ou efetiva sobre seus povos. Apenas dois entre os chamados 'monarcas medievais insanos' realmente presidiram seus governos e causaram um impacto significativo na história de seus países:

  1. Carlos VI da França – acessos de loucura intermitentes, ocorreram durante um longo período, desestabilizando o governo e contribuindo para a situação infeliz e caótica de uma nação em guerra com os ingleses
  2. Henrique VI da Inglaterra – acessos de curta duração, mas se manifestaram num momento de aguda crise política, geraram efeitos adversos cruciais
Assim foi também a loucura do rei sueco Eric XIV, seu reinado durou apenas oito anos e terminou com sua deposição em 1568, mas o colapso mental, evidentemente esquizofrenia, que experimentou no final de seu reinado teve efeitos desastrosos e duradouros sobre a monarquia e a nação sueca.




Eric se tornou rei em 1560, de uma nação com uma história muito antiga, mas só se moldou num Estado moderno em tempos relativamente recentes. A Suécia esteve ligada à Noruega e à Dinamarca por um século e meio, num reino unido governado pelo rei dinamarquês – A União de Calmar (1397). Depois em 1520 após um massacre dos líderes suecos em Estocolmo, uns 80 foram sumariamente executados num único dia ( 8 de novembro de 1520 ), perpetrado pelo monarca dinamarquês Cristiano II, ele próprio uma vítima da loucura, os suecos ergueram-se contra seus senhores dinamarqueses sob a liderança do nobre Gustavo Vasa, que perdera parentes próximos no "banho de sangue".




Gustavo Vasa moldou uma nova Suécia, promoveu:
  • a economia
  • rompeu a autoridade da antiga igreja romana
  • conquistou a rebelde nobreza sueca, intimidando e subornando-a
Fez da Suécia a potência dominante no Báltico. O primeiro rei dessa Suécia recém independente, foi um homem de imensa habilidade e astúcia, mas havia algumas manchas obscuras em sua personalidade, sugerindo traços de instabilidade mental – "um tirano e um sabujo" – chamavam-no seus inimigos. De início nenhuma sombra parecia pairar sobre o filho mais velho e herdeiro de Gustavo, Eric XIV. Ele parecia um modelo de todas as virtudes, o paradigma de um príncipe do Renascimento. Competente em latim, versado em francês, espanhol, alemão, italiano e finlandês; tinha livros em grego e hebraico nas suas estantes. Lia geografia, história e pensamento político, inclusive as obras de Maquiavel, que considerava seu mentor na política e na guerra. Mostrava interesse pela tecnologia, arquitetura, artes militares, em que foi um importante inovador, embora melhor na teoria no que na prática. Tocava alaúde, criava abelhas e tinha um interesse apaixonado por astrologia. Tinha todas as qualidades essencias a um grande príncipe e foi considerado um pretendente adequado para Elizabeth da Inglaterra.

Mas ... O fato de se intitular Eric XIV – Eric XIII morrera em 1440 – era em si mesmo simbólico de seu desejo de enfatizar a continuidade da monarquia sueca e de apontar para sua ancestralidade real. Era fascinado pelo glorioso período "gótico" da história sueca e mais tarde, na prisão traduziria para o sueco a história imaginária dos godos por Johannes Magnus. A preocupação de Eric em exaltar sua posição, havia um traço de megalomania. Foi o 1º rei sueco a insistir em ser chamado de "Vossa Majestade". Era obsessivamente desconfiado, inconstante por temperamento, sempre temendo uma conspiração. Seu insistente sentimento por Elizabeth I, rainha da Inglaterra, preocupou e importunou. Eric mandou prender seu irmão João por ter se casado com Katarina, filha do rei polonês, considerado inimigo da Suécia.

Eric viu-se cercado de inimigos por todos os lados:
  • os dinamarqueses
  • os ricos comerciantes Lubecker
  • os poloneses
  • e os russos, agora governados pelo ambicioso czar Ivan, o Terrível
Mas Eric mostrou habilidade e determinação, empreendeu uma bem sucedida invasão à Noruega. Foi graças a seu vigor e discernimento que a Suécia escapou e sem danos excessivos no final de seu reinado.

Na altura do Ano Novo de 1568, Eric parecia ter recobrado em parte seu equilíbrio mental. Embora o surto tivesse sido violento, a esquizofrenia amainou. Ele assumiu as rédeas do reino e mostrou vigor ao repelir os dinamarqueses que haviam se aproveitado do colapso virtual do governo sueco para invadir o país. No dia 28 de janeiro de 1568, sua mulher Karin Mansdotter – que foi sua amante, de origem humilde – deu à luz um filho e o rei escreveu um hino especial para suas bodas oficiais. No dia seguinte Karin foi coroada rainha da Suécia.


Seus irmãos, João e Karl, reuniram suas tropas, capturaram Estocolmo. João foi proclamado rei João III. Eric, sua jovem esposa e o filho foram mandados para a prisão. Resistiu bravamente à sugestão de que havia governado de maneira tirânica, afirmando que sempre procurara o bem de seu povo. Eric enquanto viveu foi foco de conspirações contra seu sucessor. Temeroso do antigo soberano, querendo assegurar que os filhos dele nada pudessem reivindicar, João ordenou que Eric fosse separado da família e removido constantemente de um castelo para outro. Egocêntrico e mórbido, mantido em condições severas, Eric parece ter finalmente recaído na loucura. Em 24 de fevereiro de 1577, Eric morre, por envenenamento com arsênico, indicado por uma exumação recente.

"Eric legou duas coisas à Suécia, e ambas foram maléficas:
  1. o compromisso com a expansão imperial, do qual nenhum governo sueco conseguiria se libertar durante 150 anos
  2. o medo e a desconfiança com que a monarquia e a aristocracia iriam se olhar mutuamente durante os cinquenta anos seguintes
Das fantasias mórbidas de Eric, destilara-se um veneno fatal para ele mesmo, que contaminaria o sangue da política sueca por muito tempo" (Michael Roberts)


Origem: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green

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Benção


"Que o caminho seja brando a teus pés, O vento sopre leve em teus ombros.Que o sol brilhe cálido sobre tua face, As chuvas caiam serenas em teus campos. E até que eu de novo te veja.... Que Deus te guarde na palma de Sua mão."
(Uma antiga bênção Irlandesa)
 
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