sábado, 27 de junho de 2009

A loucura dos reis – O rei cisne


Luís II de Wittelsbach – Nymphenburg, 1845 - Berg, 1886; o último monarca europeu cuja loucura causaria um impacto na herança cultural e política do mundo moderno. Uma cruz singelamente fincada nas águas rasas do lago Starnberg, onde ele se afogou ou foi afogado em junho de 1886, celebra esse extravagante monarca. O seu comportamento excêntrico tornou-se uma lenda em seu próprio tempo.




Família e infância
A família Wilttelsbach uma das mais antigas famílias reinantes da Europa, governava desde a Idade Média o grande reino da Baviera, no sul da Alemanha; em 1806, seus príncipes, que muito tempo foram intitulados eleitores, tornaram-se reis. Em 1871 a Baviera torna-se, com relutância, parte do império alemão, mas seus soberanos conservaram o título de reis até o fim da Primeira Guerra Mundial, que derrubou todos os príncipes alemães de seus tronos. Muitos bávaros ainda cultuam a memória do passado. O pai de Luís tornou-se rei da Baviera em 1848, após a abdicação de Luís I.

Não havia nada na parentela de Luís II, ou em sua ancestralidade para sugerir o que o futuro lhe reservava, mas desde menino ele foi muito sensível. Raramente era visto pelos pais, e foi criado por amas e governantas. Parece ter sido em geral uma criança solitária, que vivia muito por conta própria, entregue à sua imaginação, e a dele provou-se intensamente vívida. Suas fantasias eram especialmente atraídas pela imagem do cisne, um emblema que haveria de obsedá-lo ao longo de toda a sua vida. O castelo real em Hohenschawangau, "a casa elevada do cisne" situado nos Alpes bávaros, muito acima dos lagos Schwansee e Alpsee, que cintilam entre as montanhas havia sido reconstruído por Maximiliano, pai de Luís, e foi dedicado à lenda de Lohengrin. Os profusos afrescos que adornavam suas paredes representavam um cisne puxando um barco em que viajava Lohengrin, o cavaleiro do Santo Graal com quem Luís se identificaria.

Ainda adolescente desenvolveu intensa admiração pelo compositor Richard Wagner, uma paixão que dominaria sua vida. A música do compositor haveria de gerar uma série de fantasia que Luís procurou converter em realidade, às vezes com resultados trágicos. Desde menino, Luís teve uma visão romântica de si mesmo, como um rei que conduziria o povo alemão por caminhos ideais, e por acaso as composições de Wagner simplesmente vieram ao encontro dessa visão num momento crítico e com enorme impacto. O próprio Wagner apelidou o rei de Parsifal "meu filho no Espírito Santo", simples e sábio, chamado pelo destino para suceder à monarquia do Graal.

Depois da súbita morte de seu pai em 1864, o jovem e imaturo príncipe teve a oportunidade de converter sua visão em realidade. Luís era muito alto e irradiava enorme encanto. Tinha abundantes cabelos crespos, regularmente grandes, que usava longos, talvez para cobrir suas orelhas muito grandes, traços de um bigode e olhos extraordinariamente expressivos.
"Ele era mentalmente bem-dotado no mais alto grau, mas os conteúdos de sua mente estavam armazenados de maneira totalmente desorganizada. Fiquei impressionado pela maneira como volta e meia, exatamente quando sua expressão e conduta geral pareciam mostrar contentamento, ele se retesava de repente e – olhando à sua volta com uma expressão séria, até severa – revelava algo de sombrio em si mesmo que contrastava por completo com o encanto juvenil de um instante antes. Eu pensava comigo mesmo: 'Se duas naturezas diferentes estão germinando neste rapaz', como me pareceu desde minhas primeiras conversas com ele, 'queira Deus que a boa seja vitoriosa'. " (Ministro da Justiça Eduard von Bomhard de Luis II)
Casamento
O casamento de Luís logo se tornou uma matéria de urgência. O rei apreciava a companhia feminina, principalmente e especialmente a imperatriz da Áustria Elisabete (Sissi), que a via como a reencarnação de sua heroína Maria Antonieta. Luís anunciou seu noivado com Sophie, irmã da imperatriz Elisabete.

Quanto mais se aproximava o casamento mais temia o passo planejado. Escreveu para noiva, dizendo que o amor que sentia por ela não era o amor necessário para uma união matrimonial. A família da noiva ficou escandalizada. E Luís apenas anotou em seu diário: "Livrei-me de Sophie... Agora volto a viver após o torturante pesadelo." A verdadeira natureza de Luís era homossexual. Seus amigos íntimos eram rapazes e o principal deles foi por muitos anos o príncipe Paul von Thurn und Taxis.

Reinado
Apesar dos eventos dramáticos que estavam rondando a Alemanha, Luís era indiferente nessa época ao futuro da Alemanha, basicamente indiferente à política, embora algumas circunstâncias exigissem sua participação.

Na Guerra de Sete Semanas entre a Prússia e a Áustria, os bávaros lutaram ao lado dos austríacos e sofreram revés nas mãos dos prussianos. Luís obcecado por idéias de cavalaria medieval, pela guerra moderna, teve tão pouco entusiasmo, que chegou a pensar em abdicar em favor do irmão Otto. Quatro anos depois, a Baviera estava novamente em guerra, dessa vez os prussianos contra os franceses. Com relutância, como se ao preço de um subsídio, o rei aceitou o império que resultou na proclamação do rei prussiano Guilherme I como imperador alemão em Versalhes.

Assim Luís, passou a viver cada vez mais num mundo criado por ele mesmo, empenhado em patrocinar Wagner e o teatro e em construir palácios decorativos que, embora não tenham todos sido concluídos, permaneceram como seu legado mais substancial para a posteridade. E na raiz de sua vida fantasiosa, estavam as lendas medievais encarnadas nas óperas de Wagner.

Luís era cruelmente intolerante com quem lhe parecia feio, e só tinha olhos para rapazes e moças bonitos. Mesmo as relações de Wagner com o rei não foram livres de atrito, por mais forte que fosse o vínculo entre eles, porque o compositor era capaz de ser trapaceiro e desonesto, ao passo que Luís era exigente e temperamental.

Havia na Baviera uma onda crescente de críticas as extravagâncias de Wagner, uma irritação agravada pelas intervenções pouco sutis do compositor na política bávara. Entristecido, Luís ordenou a Wagner que partisse de Munique para a Suíça. Em novembro de 1880 quando os bávaros celebraram os setecentos anos do governo Wittelsbach, Wagner foi a Munique para assistir a uma apresentação privada de Lohengrin. Foi a última vez que o rei e o compositor se viram, pois Luís não foi a estréia de Parzival em 1882, por estar doente; só assistiu à ópera em 1884, quando o próprio Wagner já estava morto.

Os Castelos
Depois de construir o castelo Neuschwanstein , Luís planejou construir um outro palácio real, diferente em função da aparência, o Linderhof, este deveria ser em homenagem a seu grande herói Luís XIV da França, a quem ele procurava imitar como patrono das artes; às vezes, copiava também suas roupas e maneira de andar, conversava em francês com convidados imaginários. Linderhof foi um palácio pequeno, revestido de pedra branca, estilo barroco e cheio de fantasias decorativas, colorido e encantador. O mais suntuoso de todos os castelos foi Herrenchiemsee, situado na ilha de Herren, foi inspirado pelos palácio de Luís XIV, construção horizontal de grande beleza moldada em Versalhes. Sua galeria de espelhos chegava a suplantar a original, com mais 27 m de comprimento.

Reformou e construiu outros edifícios, todos exóticos e simbólicos. Falkenstein teria sido o mais espetacular, como Neuschwanstein, uma fábula gótica, uma majestosa estrutura de pináculos e torres, à maneira da Disneylândia, situada no topo de uma montanha a sobranceira ao mundo, um tributo ao reino da fantasia que o rei passou a viver cada vez mais.

Fim do reinado
Cada vez mais ele foi se furtando ao olhar público e se restringindo a um mundo privado e cada vez mais se tornava um animal noturno. Seu comportamento excêntrico estava chegando ao limiar da insanidade. Parecia haver dois Luises:
  1. encantador e sociável, ativo e até politicamente sensato, preocupado com o bem estar de seu povo;
  2. sonhador, rabugento, desatencioso e retraído, cada vez mais mergulhado num mundo de fantasia – e esse dominava cada vez mais.
Seu herdeiro, o irmão Otto, estava louco havia vários anos, era preciso de uma regência, assim foi escolhido o tio Leopoldo de 65 anos, que deixou-se convencer, com alguma relutância a assumir esse papel.

Morte
Em 12 de junho de 1886 às 18.45h, o rei e o médico partiram para uma caminhada às margens do lago. Quando às 20hs não havia retornado um grupo de busca saiu a procura e por voltas 22h, foram encontrados nas águas rasas da beira do lago, o paletó e o sobretudo do rei; seu guarda-chuva estava próximo. O corpo do rei foi encontrado na água, de bruços, seu relógio estava parado às 18.45h. O médico estava a alguns passos de distância, flutuando na água barrenta da borda do lago.

Assim o corpo do rei foi sepultado em 19 de junho de 1886, na cripta de St. Michael; mais tarde, um vaso contendo seu coração foi depositado junto com as outras relíquias de sua antiga família na Capela Votiva de Alt-Otting.

Luís II, não seria o último rei da longa linhagem Wittelsbach, pois ironicamente, foi sucedido por Otto, seu irmão louco havia tanto tempo, que continuou sendo o soberano, pelo menos nominalmente até 1913, quando foi destronado pelo primo Luís III, o último monarca bávaro. Sob muitos aspectos, Luís II foi sem dúvida o mais trágico e talvez o mais criativo membro de sua antiga família.



Castelos da Baviera

Hohenschawangau

Herrenchiemsee

Linderhof

Neuschwanstein

ruínas de Falkenstein

residência de Monique




Origem: 'A Loucura dos Reis' de Vivian Green

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Benção


"Que o caminho seja brando a teus pés, O vento sopre leve em teus ombros.Que o sol brilhe cálido sobre tua face, As chuvas caiam serenas em teus campos. E até que eu de novo te veja.... Que Deus te guarde na palma de Sua mão."
(Uma antiga bênção Irlandesa)
 
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